Um trabalho coletivo

Boa parte dos cristãos tem dúvidas quanto à segurança da salvação. Eles foram ensinados que não é possível ter certeza, porque os “santificados pelo sangue da Nova Aliança podem cair da graça de Deus e perecer eternamente” [1]. Será mesmo?

Nas Escrituras Sagradas encontramos afirmações diferentes, das quais podemos perceber que é possível ter segurança da salvação e além disso há um forte apelo para que os crentes busquem ter convicção dela. Segundo o pastor John Marcarthur, “não ter essa certeza é viver na dúvida e com medo, uma forma diferente de sofrimento e depressão espiritual” [2]. A segurança da salvação não contribui para a salvação e não define se uma pessoa é salva ou não, mas é essencial para o modo como tal pessoa responde à vida cristã.  

Noções falsas e verdadeiras

Em questão de depressão espiritual o pastor Martin Lloyd-JONES colabora dizendo: “na verdade, creio que poderia ser facilmente constatado que a maior causa de problemas nesta área, é a tendência fatal de tomar certas coisas como garantidas. Quanto mais eu falo com as pessoas sobre isso, mais vejo que é este o caso. Há tantas pessoas que parecem nunca chegar a uma posição firme sobre a fé cristã, porque não chegam a uma definição clara em sua mente quanto a certos pontos primários, certas coisas fundamentais que deviam ser tratadas no princípio”[3]. Quando ele fala “no princípio”, refere-se ao discipulado antes do batismo nas águas.

Quando uma pessoa não tem certeza da sua salvação, sua vida cristã se baseia mais no medo de fazer algo errado do que realmente glorificar a Deus. Isso acontece porque noções falsas estão sempre baseadas em nossas próprias forças e conhecimento humano, em “garantias erradas”, e não nas promessas de Deus e no que Cristo fez na cruz.

 

Certeza da salvação

Segurança

Conduta Cristã

Falso ou Vago

Não

Vida cristã se baseia mais no medo de fazer algo errado do que realmente glorificar a Deus

Verdadeiro

Sim

Vida cristã se baseia mais em agradar a Deus e ser parecer com Cristo do que no medo de fazer algo errado.

Como identificar quando temos noções falsas sobre a certeza da salvação?

O silogismo – é quando existe uma premissa maior(P1) e uma menor(P2) que levam a uma única conclusão(C) – muitas vezes contribui para criarmos noções falsas sobre a salvação. Vejamos um exemplo de silogismo utilizado em muitas denominações evangélicas:

João 1.12: “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus”.

P1: Os que recebem a Jesus tornam-se filho de Deus

P2: Uma pessoa diz que aceitou a Cristo como seu Salvador levantando a mão no culto para aceitar Jesus ou ir lá frente da igreja recitar uma oração ditada pelo pastor.

C: Concluirmos que essa pessoa foi salva.

Parece lógico, mas não é possível afirmar que o passo “C” é verdadeiro. Pois, não podemos ter certeza que a premissa menor(P2) é verdadeira pelo simples fato da pessoa ter dito que “aceitou” a Jesus.

Se acreditarmos que nossa salvação depende de nós e de Jesus, significa que Cristo não é suficiente e absoluto na salvação! Ora, se somos falhos e pecadores, então é natural crermos não ser possível termos certeza da nossa salvação pelas nossas conduta. Por isso, pessoas que pensam dessa forma, geralmente, vivem uma vida cristã com medo e muitas vezes deprimida.

Porém, quando nos baseamos nas promessas de Deus e no que Cristo fez por nós na cruz, temos o conhecimento verdadeiro sobre a salvação, então a história é outra! A Bíblia nos mostra que podemos ter certeza e também comprová-la (em outros momentos aprofundaremos esse ponto).

O que dizer de Tg 1.2-4 e 1Pe 1.6-7 ?

“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.” (Tg 1.2-4; grifo nosso)

“Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado….”. (1Pe 1.6-7 ; grifo nosso)

As provações mostram se a confissão de fé de uma pessoa foi verdadeira ou não. Uma vida marcada pela luta por santificação é a principal evidência da eleição do cristão. Além disso, do início ao fim da vida cristã, “o próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Rm 8.16)

Em João 20.31 diz sobre os testemunhos nas Escrituras “foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome”. Deus promete vida eterna e salvação a todos que crerem em Jesus.

O Pai, o Filho e o Espírito Santo de Deus – a Santa Trindade – agem em perfeita harmonia para garantir a  salvação do seu povo. Portanto, existe um trabalho em equipe para assegurar a salvação. Vejamos resumidamente como isso acontece segundo as Escrituras.

 

1) O Decreto Soberano do Pai

Se Deus não tivesse tomado a iniciativa para salvar o homem, não haveria salvação. A Confissão de Fé Batista de 1689 afirma: “A distância entre Deus e a criatura é tão grande que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência, por ser Ele o criador, elas jamais poderiam alcançar o Dom da vida, senão por alguma condescendência voluntária da parte de Deus. E isto Ele se agradou em expressar por meio de um pacto com o homem”.[4] Podemos comprovar isso na Palavra de Deus fem João 6.44a: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer…”

Os decretos de Deus “são os divinos desígnios eternos por meio dos quais, antes da criação do mundo, ele determinou realizar tudo o que acontece. Essa doutrina é semelhante à da providência, mas aqui estamos considerando as decisões divinas anteriores a criação do mundo, e não seus atos providenciais no tempo. Seus atos providenciais são a efetivação dos decretos eternos que ele baixou há muito tempo.”[5]

Jesus disse que veio para executar a vontade do Pai: “E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Porque a vontade de meu Pai é que todo o que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:39-40)

“Era comum, nos tempos do Novo Testamento, a pessoa fazer um juramento sobre algo ou alguém superior a ela mesma. Um homem judeu jurava pelo altar do templo, pelo sumo sacerdote ou até pelo próprio Deus. Uma vez feito tal juramento, a discussão estava encerrada (grifo nosso). Acreditava-se que, se estivesse disposto a fazer um juramento tão sério, o indivíduo estava plenamente decidido a cumpri-lo”. [6]

Em Hebreus 6.13-18 temos a orientação de Deus nesse sentido:

Quando Deus fez a sua promessa a Abraão, por não haver ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: “Esteja certo de que o abençoarei e farei seus descendentes numerosos”. E foi assim que, depois de esperar pacientemente, Abraão alcançou a promessa. Os homens juram por alguém superior a si mesmos, e o juramento confirma o que foi dito, pondo fim a toda discussão.

Querendo mostrar de forma bem clara a natureza imutável do seu propósito para com os herdeiros da promessa, Deus o confirmou com juramento, para que, por meio de duas coisas imutáveis nas quais é impossível que Deus minta, sejamos firmemente encorajados, nós, que nos refugiamos nele para tomar posse da esperança a nós proposta. (grifo nosso)

Quais seriam essas duas coisas? Sua promessa e juramento. Por isso amados, precisamos nos refugir nas promessas do Pai e tomar posse delas, crer nelas. Pois, Deus deixa claro que a salvação está garantida unicamente porque Ele prometeu e estava decido a faze-la. A maior prova disso foi ter enviado seu próprio Filho para morrer na cruz, consumando de uma vez por todas a salvação de todo aquele que crê em Jesus! (João 19.30)

 

2) A obra de Cristo como sumo sacerdote

No Antigo Testamento conhecemos a existência do templo judeu. No lugar mais sagrado desse templo, o Santo dos Santos, tinha um véu que o separava do restante do templo. Nesse lugar ficava a arca da aliança que significava a glória de Deus. Apenas uma vez por ano, o sumo sacerdote de Israel passava pelo véu e fazia expiação dos pecados do povo.  

Em Hebreus 6.19-20 diz:

“Temos esta esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-se sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.”(grifo nosso) 

Quando Cristo veio e inaugurou a Nova Aliança, Ele fez a expiação de uma vez por todas e todos os pecados do povo de Deus. Jesus, através do seu sacrifício na cruz, garantiu a salvação dos escolhidos. “Na mente de Deus, a alma do cristão já está guardada por trás do véu – o seu santuário eterno… Nossa alma não somente está ancorada dentro do santuário impenetrável, inviolável e celestial, mas nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, também as guarda!!”[7].

Jesus sempre orou em perfeita harmonia com a vontade do Pai, ou seja, de acordo com os decretos soberanos do Pai. Podemos perceber isso na sua oração(João 17:11-12; ACF):

“E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós. Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição [destinado à perdição NVI], para que a Escritura se cumprisse.”.(grifo nosso)

Então, nota-se que é tanto da vontade do Pai como do Filho assegurar a salvação do seu povo. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória…”(Judas 1:24 – ACF), na NVI seria: “Àquele que é poderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria..” (grifo nosso)

Além disso existe a promessa de que ninguém poderá tirar os salvos das mãos de Jesus! Ninguém! Disse Jesus:  

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um”. (João 10:27-30; grifo nosso)

Portanto amados, Cristo intercede por nós de acordo com a vontade soberana do Pai. Agarremo-nos às promessas divinas. Jesus nos impedirá de perder a salvação e nos apresentará ao Pai no dia da sua volta. Glória a Deus!!

 

3) O selo do Espírito

Todas essas promessas vistas até agora seriam suficientes, mas Deus ainda faz mais uma promessa para mostrar que a salvação é certa. Ele promete dar seu “selo e sua garantida” para todos que creem em Jesus. Aqueles que estão em Cristo, ou seja, que se arrependeram dos seus pecados e receberam a Cristo como Senhor e Salvador, podem ter certeza que sua salvação está garantida! Pois também receberam o Espírito Santo para selar tal salvação!

Disse o apóstolo Paulo certa vez:

“Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos  firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos selou como sua propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações como garantia do que está por vir”. (2 Coríntios 1:21-22; grifo nosso)

Segundo MARCARTHUR, em Efésios 1.14 a palavra em grego “Arranbõn”, que é traduzida por “garantia”, refere-se a um sinal ou adiantamento dado para garantir uma compra. Mais tarde passou a representar qualquer tipo de garantia. O Espírito de Deus é dado a todo salvo como uma garantia de “compra” da nossa salvação.

Amados, nossa salvação ACONTECE no momento em que cremos em Jesus e como confirmação disso, imediatamente Deus nos concede o seu Espírito Santo (batismo no Espírito Santo). No entanto, somente alcançaremos a consumação da salvação quando Cristo voltar para levar sua Igreja. Enquanto isso,  não receberemos direta e imediatamente a plenitude de todas as promessas de Deus. Por isso, muitas vezes somos tentados a duvidar da nossa salvação. Como ainda esperamos a redenção de nossos corpos, a obra da salvação, apesar de garantida, ainda não se completou. Somente no grande dia da volta de Cristo, isso acontecerá.

“Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo”. (Romanos 8:22-23)

A Igreja é a noiva de Cristo, e de maneira nenhuma ela será negligenciada ou abandonada por Jesus! Na linguagem dos tempos do AT e do NT o noivado já era o início do casamento, mas ainda não era a consumação dele. Os cônjuges já  eram comprometidos um com o outro, mas nem tudo que era pertencente ao casamento poderia ser vivido no noivado. Da mesma forma, a Igreja é noiva de Cristo. O compromisso já existe. Por isso, sem sombra de dúvidas Jesus levará sua “noiva”, que é a igreja, para a consumação do casamento.

Portanto, o Espírito Santo contribui para assegurar nossa salvação. Se o recebemos de fato, as obras do Espírito serão visíveis durante a maior parte da nossa vida cristã. A fuga e a luta contra o pecado e a busca por fazer a vontade de Deus serão reais e necessárias do inicio da conversão até o dia que Jesus voltar. Essa é a santificação que Deus espera do seu povo.

Concluímos então que a nossa salvação está garantida pela ação coletiva da Trindade! “O decreto soberano do Pai, o ministério intercessório do Filho e o selo do Espírito – todos cooperam de forma magnifica para promover uma salvação segura”.[8] Ter certeza da salvação significa, simplesmente, confiar nas promessas de Deus e  no que Cristo fez por nós na cruz. Nada do que façamos poderá contribuir para nossa salvação, mas nossas atitudes demonstram se realmente somos salvos ou não. 

 

Aplicação do estudo

1 – Procure se familiarizar com os textos mencionados no estudo.

2 – Reflita sobre sua vida e veja se seus atos estão testemunhando a vida de um salvo ou a vida de alguém que deseja ser salvo.

3 – Encontre na Bíblia uma passagem que AFIRME ser possível alguém deixar de ser justificado. Se você encontrar, então é possível perder a salvação.

4 – Procure outras passagens bíblicas que falem sobre salvação. Leia e medite com bastante atenção.

NOTA:

[1] JOINER, Eduardo. Manual Prático de Teologia. Rio de Janeiro: Ed Central Gospel, 2004. Pág: 460;

[2] MACARTHUR, John. Salvos sem sombra de dúvidas. São Paulo: Ed Palavra, 2011. Pág: 13;

[3] JONES, D. M. Lloyd. Depressão Espiritual. São Paulo: Ed PES,1996. Pág: 9;

[4]CORRÊA, Paulo. Artigo Pacto da Graça – Conceitos Iniciais, link: http://justificacaopelafe.com.br/index.php/assuntos/esbocos-teologicos/124-teologia-do-pacto/371-pacto-da-graca-conceitos-iniciais;

[5] FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática. São Paulo: Ed Vida Nova, 2007. Pág: 305;

[6] MACARTHUR, John. Salvos sem sombra de dúvidas. São Paulo: Ed Palavra, 2011. Pág: 23;

[7] MACARTHUR, John. Salvos sem sombra de dúvidas. São Paulo: Ed Palavra, 2011. Pág: 24;

[8] MACARTHUR, John. Salvos sem sombra de dúvidas. São Paulo: Ed Palavra, 2011. Pág: 27;

[NVI] – Tradução Bíblica na Nova Linguagem Internacional;

[ACF] – Tradução Bíblica Almeida Corrigida Fiel.

 

 

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