O Sistema de Viver no Mundo

“Você precisa rever seus conceitos.” Esse era o slogan de uma campanha publicitária da Fiat em 2000. A ideia era repensar antigos conceitos morais da sociedade brasileira. Nove anos depois vemos que a maioria daqueles conceitos caiu por terra. Por que será? Como é possível uma sociedade mudar tanto a forma de pensar em tão pouco tempo? Quem está influenciando essa sociedade e a quem interessa essas mudanças? A Bíblia tem a resposta. Aliás, ela sempre tem as respostas.

Gosto da tradução de J. B. Philips para I Jo 2.15-17: “…todo o sistema do mundo, fundamentado como está nos desejos humanos, nas ambições invejosas e no fascínio de tudo aquilo que acham maravilhoso, não vem absolutamente do Pai, mas sim do próprio mundo…” (Philips, J. B. Cartas para Hoje. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1994). Tiago ainda acrescenta: “Não estais cientes de que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).

Diante da paráfrase acima vemos que o sistema do mundo não agrada a Deus e está fundamentado em três pilares:
a) desejos humanos ou paixões carnais;
b) ambições invejosas ou cobiça dos olhos, e
c) fascinação ou ostentação dos bens.

Que mal há nos desejos humanos? Paixões carnais não são coisas boas? Tiago nos dá uma dica. Ele afirma que “as batalhas e desentendimentos entre nós vêm das nossas paixões que guerreiam dentro de nós” (Tg 4.1). A pergunta é: o homem pode desejar alguma coisa boa do ponto de vista divino? Jonathas Edwards afirma que não (Edwards, Jonathas Sobre a Liberdade da vontade). Segundo ele, “a vontade é a escolha da mente”. O mundo não tem a mente de Cristo e, portanto, “não pode compreender as coisas de Deus” (I Cor 2.14). Ele está “morto em seus delitos e pecados” (Ef 2.1). Não quer Deus, não pode ouvir a voz de Deus, nem desejá-lo. Logo, sendo o homem decaído, suas paixões e desejos também são decaídos. O pecado afeta o coração, a vontade, a mente e o corpo do homem.

Francis Schaefer, ao comentar sobre a busca do homem por autonomia, afirmou que o mesmo tentou tornar-se livre e se separou da revelação e graça divina. Autonomia é uma palavra composta. Segundo R.C. Sproul, a palavra vem do prefixo auto e da raiz nomos. Auto significa “por si próprio”. Nomos é a palavra grega para “lei”. A palavra autonomia, então, significa “lei própria”. Foi isso que satanás fez. Convenceu o homem a afastar-se totalmente da lei de Deus, construindo a sua própria lei. Jesus nos mostra essa verdade quando chama os fariseus de filhos do diabo e afirma que eles satisfaziam os desejos de satanás. (Jo 8.44). Assim, todo sistema político, econômico, social e religioso mundano está contaminado pelo pecado.

As ambições invejosas desencadeiam guerras, guerrilhas e todos os tipos de competições desleais entre os homens. Daí nascem os adultérios, os homicídios, os roubos, os furtos e tantos outros crimes. É por isso que nenhuma ideologia, seja comunismo, capitalismo, terceira-via, social-democracia, anarquia, fascismo, nazismo, populismo, liberalismo e até mesmo a democracia não conseguem satisfazer aos anseios humanos. Qualquer iniciativa, mesmo com excelentes intenções e motivações é sempre imperfeita. Não há como fugir à depravação humana. A humanidade foi destituída da glória de Deus e por isso não tem o caráter de Deus (Rm 3,23).

A fascinação ou ostentação dos bens, traduzida por João Ferreira de Almeida como a soberba da vida, tornou-se uma aspiração humana. É como a lenda da sereia subjugando marujos com seu canto. Uma terrível ilusão. É o tema da maioria das campanhas publicitárias. Os homens tornam-se pescadores das ilusões e utopias vendidas pelo deus deste século através de uma vida egoísta e hedonista. A arrogância ou presunção foi a principal causa da queda desse deusinho e agora ele quer levar consigo aqueles que aceitarem sua sugestão mentirosa de ser igual a Deus ou da autossuficiência.

Esse é o mundo em que estamos inseridos. Jesus Cristo sabendo disso orou ao Pai: “Eu rogo por eles; não estou orando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus. Não peço que os tires do mundo, mas sim, para que os proteja do príncipe deste mundo. Eles não são do mundo, como também Eu não sou.” (João 17:9;15-16). Note que Cristo não orou pelo mundo todo, mas, apenas por aqueles que o Pai tinha lhe entregado.

O Pai atendeu a oração de Cristo e nós continuamos no mundo. Acontece que a igreja evangélica moderna, depois de algum tempo, ficou entediada com a simplicidade do Evangelho e levou o mundo para dentro de si. A consequência disso é que ela tomou a forma do mundo e agregou valores mundanos à sua cosmovisão.

Os desejos humanos ou paixões carnais passaram a ser suportados dentro de suas congregações. Os adultérios e divórcios tornaram-se comuns. Boatos, maledicências, mentiras e toda sorte de abominações está na boca do povo. As tesourarias são verdadeiras caixas pretas guardando segredos obscuros. Irmãos se odeiam, transformando-se em homicidas (I Jo 3.15). Paul Washer, em seu famoso sermão “dez acusações contra a igreja moderna”, afirma haver uma falta de ensino sério sobre santidade. Na maioria dos casos a santidade é exterior. Está na maneira de vestir e não de pensar ou agir.

Ambições invejosas ou cobiça dos olhos trazem consigo todos os tipos de competições desleais entre igrejas locais. Há dissensões em toda parte. As reuniões convencionais levam oficiais de suas igrejas à pancadaria e transformam-se em disputas judiciais. Novas teologias e doutrinas tem surgido, inspiradas por espíritos imundos. Modismos e inovações são lançados com o objetivo de arrastar “multidões com comichões nos ouvidos, loucas para ouvir fábulas e mitos” (II Tim 4:3-4).

Por último, a fascinação ou ostentação dos bens, ou ainda como diz a A.R.A*, a soberba da vida, entrou no coração de muitos líderes eclesiásticos. Igrejas estão se transformando em verdadeiros clãs, pequenos impérios evangélicos. Mega-igrejas orgulham-se de suas receitas financeiras, da beleza de seus templos caríssimos, enquanto seus membros não possuem casas próprias. Líderes com altos salários, vivendo como executivos, enquanto a média salarial brasileira é de 3,6 salários mínimos. As Escrituras são claras: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Tm 6:9-10).

Chegou à hora de voltarmos ao primeiro amor. Esse é o momento de nos arrependermos. Sabemos aonde caímos. Não é difícil retroceder (Ap 2:4-5). A ordem para os cristãos é amar a Deus e a humanidade. Fomos “criados para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). Como foi nos tempos de Elias e será na grande tribulação, Deus tem o seu remanescente hoje. Juntemo-nos a eles.

Vamos à batalha. “Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:12). “Nossas armas não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo (II Cor 10:4-5)”.

É isso. Como afirmaram Charles Colson e Nancy Pearcey precisamos libertar o cristianismo de seu cativeiro cultural. Ensinar e divulgar a cosmovisão cristã. Usar a mente e a ótica de Cristo para julgar todas as coisas: as filosofias, as artes, os entretenimentos, a música, a televisão, a literatura, o teatro, o cinema e a cultura popular. “Examinar tudo e reter o que é bom” (I Tessalonicenses 5.21). Anunciar a Verdade Absoluta. Vamos guerrear contra o aborto; a prostituição infantil; a pedofilia; a corrupção política; a imoralidade sexual; as ditaduras; a mendicância; o analfabetismo; a má distribuição de renda; os espíritos imundos; as heresias que distorcem o evangelho; a frieza espiritual; as vãs filosofias; a falsa ciência; o ateísmo; o relativismo, etc. Enfim vamos continuar o que Cristo começou: desfazer as obras do diabo. (I João 3:8).

O Eterno conta conosco. “Nós não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma” (Hb 10.39). Vamos lá!!! Existe uma mensagem de esperança para nós. Ao final de nosso versículo chave está escrito: Ora, o mundo passa, assim como sua volúpia (prazeres ardentes); entretanto aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente. O mundo vai perecer, em Cristo somos eternos. O mundo será derrotado, em Cristo somos mais do que vencedores. O mundo vive na mentira, Cristo é a verdade. O mundo está sem rumo, Cristo é o caminho. O mundo vive em trevas, Cristo é a luz. O mundo vive no egoísmo, Cristo é o amor em pessoa!

 

Fontes
NOVO TESTAMENTO – Bíblia King James Atualizada –São Paulo – Abba Press, 2007.
PHILIPS, J. B. Cartas para Hoje. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1994.
PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta. Rio de Janeiro, CPAD, 1ª ed 2006.
SCHAEFER, Francis. A Morte da Razão. São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 1974.
EDWARDS, Jonathas. Sobre a Liberdade da vontade.
SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Editora Cultura Cristã, 2002.
* A.R.A – Almeida Revista e Atualizada.

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