Encorajamento para desenvolver a santidade

Joel Beeke é pastor da igreja Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, MI, EUA. É presidente, Deão acadêmico e catedrático de Teologia Sistemática e Homilética do Seminário Reformado Puritano. Possui Ph.D pelo seminário Westminster em Teologia Reformada e Pós-reforma. Pr. Beeke atua como preletor em diversas conferências em várias partes do mundo, inclusive o Brasil; é autor e co-autor de mais de 50 livros, alguns já em português, como o livro “Vencendo o Mundo” (Editora Fiel) e outros em processo de tradução. É casado com Mary Beeke com quem tem 3 filhos Deus nos chamou à santidade.

 

“Porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação” (1 Ts 4.7). Todas as coisas às quais o Senhor nos chama são necessárias. Sua própria chamada, assim como todos os benefícios de um viver santo que experimentamos, devem nos induzir a buscar e praticar a santidade. A santidade aumenta o nosso bem-estar espiritual. Deus nos assegura que “nenhum bem sonega aos que andam retamente” (Sl 84.11). “O que a saúde é para o coração”, observou John Flavel, “a santidade é para a alma”.1 Na obra escrita por Richard Baxter sobre a santidade, os próprios títulos dos capítulos são esclarecedores: “Santidade é o único caminho de segurança”; “Santidade é o caminho mais benéfico”; “Santidade é o único meio honroso”; “Santidade é o caminho mais agradável”. Contudo, ainda mais importante, a santidade glorifica ao Deus que você ama (Is 43.21). Como afirmou Thomas Brooks: “A santidade faz o máximo para honrar a Deus”.

 

A santidade fomenta a semelhança a Cristo

Thomas Watson escreveu: “Devemos nos empenhar em sermos semelhantes a Deus em santidade. Este empenho é um espelho nítido no qual podemos ver um rosto; é um coração santo no qual pode ser visto algo do caráter de Deus”.4 Cristo é o padrão de santidade para nós — o padrão de humildade santa (Fp 2.5-13), compaixão santa (Mc 1.41), perdão santo (Cl 3.13), altruísmo santo (Rm 15.3), indignação santa contra o pecado (Mt 23) e oração santa (Hb 5.7). Desenvolver a santidade que procura assemelhar-se a Deus e tem a Cristo como padrão nos salva de muita hipocrisia e de um cristianismo apenas domingueiro. Esta santidade nos dá vitalidade, propósito, significado e direcionamento no viver diário.

 

A santidade dá evidência da justificação e da eleição

A santificação é um fruto inevitável da justificação (1 Co 6.11). Estes dois elementos podem ser distinguidos, mas nunca separados; o próprio Deus os uniu. A justificação está organicamente ligada à santificação; o novo nascimento dá origem à uma nova vida. O justificado andará no “caminho de santidade do Rei”. Em Cristo e através dEle, a justificação dá ao filho de Deus o direito e a ousadia de entrar no céu; a santificação dá-lhe a aptidão para o céu e a preparação necessária para chegar lá. A santificação é a apropriação pessoal dos frutos da justificação. B. B. Warfield observa: “A santificação é tão-somente a execução do decreto de justificação. Pois, se a santificação falhasse, a pessoa justificada não seria liberta de acordo com sua justificação”. Conseqüentemente, o decreto de justificação de Cristo, em João 8.11 (“Nem eu tampouco te condeno”), é imediatamente seguido pelo chamado à santidade: “Vai e não peques mais”. A eleição é também inseparável da santidade: “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Ts 2.13). A santificação é a marca de identificação das ovelhas eleitas de Cristo. Por isso, a eleição é sempre uma doutrina confortante para o crente, pois esta é o seguro fundamento que explica a graça de Deus operando nele. Por isso, os nossos antepassados reformados consideravam a eleição como um dos maiores consolos do crente, visto que a santificação torna visível a eleição. Calvino insistiu que a eleição não deveria desanimar ninguém, pois o crente recebe consolo dela, e o incrédulo não é chamado a considerá-la — antes, ele é chamado ao arrependimento. Aquele que fica desanimado pela eleição, ou confia-se à eleição sem viver uma vida de santidade, está se tornando vítima de um mau uso satânico desta doutrina preciosa e encorajadora (veja Dt 29.29). Como afirma J. C. Ryle: “Não é permitido a nós, neste mundo, estudar as páginas do Livro da Vida, e ver se nossos nomes encontram-se ali. Mas, se há algo nítido e plenamente declarado a respeito da eleição, é isto — que os homens e mulheres eleitos serão conhecidos e distinguidos por vidas santas”.8 A santidade é o lado visível de sua salvação. “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16).

 

A santidade promove a segurança

“Todos podem estar seguros de sua fé por meio de seus frutos” (Catecismo Heidelberg, Questão 86). Teólogos reformados concordam que muitas das formas e graus de segurança experimentados por crentes genuínos — especialmente segurança diária — são alcançados gradualmente no caminho da santificação , mediante o cuidadoso conhecimento da Palavra de Deus, dos meios da graça e da conseqüente obediência.9 Uma aversão crescente pelo pecado, mediante a mortificação, e um amor crescente pela obediência a Deus, por meio da vivificação, acompanham o progresso da fé, enquanto ela cresce em segurança. A santidade centralizada em Cristo e operada pelo Espírito é a maior e mais sã evidência da filiação divina (Rm 8.1-16). O meio de perder um senso diário de segurança é deixar de buscar santidade diariamente. Muitos crentes vivem de modo relapso. Tratam o pecado despreocupadamente, ou negligenciam as devocionais diárias e o estudo da Palavra. Outros vivem de maneira muito inativa. Não desenvolvem a santidade, mas assumem a postura de que nada pode ser feito para nutrir a santificação, como se esta fosse algo externo a nós, exceto em raras ocasiões, quando algo muito especial “acontece” interiormente. Viver de maneira descuidada e inerte é pedir por escuridão espiritual, desalento e falta de frutos diariamente.

 

A santidade nos purifica

“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro” (Tt 1.15). A santidade não pode ser exercitada, quando o coração não foi fundamentalmente transformado por meio de regeneração divina. Por meio do novo nascimento, Satanás é destituído, a lei de Deus é escrita no coração do crente, Cristo é coroado Senhor e Rei e o crente é feito “disposto e pronto, conseqüentemente, para viver em Cristo” (Catecismo Heidelberg, Questão 1). “Cristo em nós” (Christus in nobis) é um complemento essencial para “Cristo por nós” (Christus pro nobis). O Espírito de Deus não apenas ensina ao crente o que Cristo fez, como efetiva a santidade e a obra de Cristo em sua vida pessoal. Por meio de Cristo, Deus santifica seu filho e faz suas orações e ações de graças aceitáveis. Como disse Thomas Watson: “Um coração santo é o altar que santifica a oferta; se não é por satisfação, é por aceitação”.

 

A santidade é essencial para um serviço efetivo a Deus

Paulo une a santificação à utilidade: “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra” (2 Tm 2.21). Deus usa a santidade para assistir aos pregadores do evangelho, para aumentar a influência da fé cristã, a qual é desonrada pelo descuido dos crentes e hipócritas que freqüentemente servem como os melhores aliados de Satanás. 
Nossas vidas estão sempre fazendo o bem ou o mal; elas são uma carta aberta para que todos leiam (2 Co 3.2). Um viver santo influencia e impressiona mais do que qualquer outra coisa; nenhum argumento pode igualar- se a uma vida santa. Ela mostra a beleza da religião; dá credibilidade ao testemunho e ao evangelismo (Fp 2.15).13 A “santidade”, escreve Hugh Morgan, “é o modo mais eficiente de influenciar pessoas não convertidas e de criar nelas uma disposição para ouvir a pregação do evangelho” (Mt 5.16; 1 Pe 3.1-2). A santidade manifesta-se em humildade e reverência a Deus. Deus procura e usa pessoas humildes e reverentes (Is 66.2). Como observa Andrew Murray: “O maior teste para sabermos se a santidade que professamos buscar ou possuir é verdade e vida, será observar se ela se manifesta na crescente humildade que produz. Na criatura, a humildade é algo necessário para permitir que a santidade de Deus habite nela e brilhe por meio dela. Em Jesus, o Santo de Deus que nos faz santos, a humildade divina foi o segredo de sua vida, sua morte e sua exaltação. O teste infalível para nossa santidade será a humildade diante de Deus e dos homens, a qual nos marca. A humildade é o esplendor e a beleza da santidade”.

 

A santidade nos prepara para o céu

Hebreus 12.14 diz: “Segui [literalmente: buscai]… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Como escreveu John Owen: “Não há imaginação que iluda tanto o homem, que seja mais tola e mais perniciosa do que esta: que pessoas não purificadas, não santificadas, que não buscam santidade em suas vidas possam depois ser levadas a um estado de bênção, que consiste no gozo de Deus. Nem podem tais pessoas ter gozo de Deus, nem tampouco Deus ser o galardão delas. De fato, a santidade é aperfeiçoada no céu; contudo, o começo dela está invariavelmente restringido a este mundo. Deus leva para o céu somente aquele que Ele santifica nesta terra. O Deus vivo não admitirá pessoas mortas no céu”. A santidade e o mundanismo, portanto, são opostos um ao outro. Se estivermos apegados a este mundo, não estamos preparados para o porvir.

 

Fonte: Editora FIEL

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