“…ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus…”
Atos 4.13
Como vimos na mensagem anterior, depois de um milagre extraordinário, no qual, um homem que era paralítico há mais de quarenta anos passou a andar, os apóstolos Pedro e João não perderam tempo e passaram a pregar o evangelho, anunciando a ressurreição de Cristo e proclamando-o como único Deus.
Tempos atrás, esse mesmo Pedro, cheio de temor, havia negado o seu mestre por três vezes. Agora, com intrepidez, ele falava do seu Senhor, desmascarando as lideranças religiosas judaicas que, após a morte de Cristo, inventaram que o corpo tinha sido roubado. Os saduceus principalmente, estavam tensos com a possibilidade de que sua doutrina mais preciosa caísse por terra. Eles ensinavam que não havia ressurreição, por isso não aceitavam a pregação dos apóstolos.
Qual seria a melhor estratégia para calar aqueles homens? O sinédrio estava revivendo tempos atrás, quando maltrataram, humilharam e caluniaram o Filho de Deus. Os mesmos juízes daquela época entraram em cena novamente para tentarem destruir a “nova seita” que anunciava a ressurreição da principal vítima deles: Jesus Cristo, a quem eles conseguiram crucificar.
O sinédrio era o tribunal dos antigos judeus, em Jerusalém, composto de sacerdotes, anciãos e escribas, o qual julgava os assuntos criminais e administrativos. Essa assembléianão podia negar que havia acontecido um milagre através de Pedro e João (At 4.16). O que fazer com esses homens então? Eles resolveram prende-los (e assim teriam tempo para planejar o que fariam com os apostolos.) “para que pudessem pensar melhor. Precisavam de tempo para maquinar o mal”.
Nos tempos do império romano, as autoridades raramente encontravam outra solução além da crueldade. Era o método mais eficaz contra qualquer tipo de ameaça às autoridades e ao sistema político vigente.
Porém, fica uma pergunta no ar? é possível prender homens verdadeiramente livres? àqueles que conheceram a verdade, Cristo afirma: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. (Jo 8.36)
Há pouco tempo atrás, Pedro teve a infelicidade de negar Jesus no sinédrio (Jo 18.17). agora, no mesmo local, Deus lhe dá a chance de mostrar a todos ali o que é uma conversão a Cristo. Você também já teve a chance de virar o jogo? Mostrar a todos o quanto Cristo te transformou?
Eles conheciam Pedro. Sabiam que ele era um pescador simples e humilde que tinha abandonado seu mestre na época do calvário e voltado para o mar depois da morte de Cristo.
Mas, não conheciam o poder do Espírito Santo para transformar a vida de uma pessoa. Agora viam um Pedro destemido, ousado e convicto de seu Deus e Mestre.
Prenderam, pediram para que se calassem, mas, nada disso adiantou. Parecia que os apóstolos tinham asas para voar como “águias”. Eram totalmente livres!!!.
Depois de ameaçá-los, os líderes judeus soltaram Pedro e João, insistindo para que se calassem a respeito de Cristo.
Vamos analisar a situação mais detalhadamente, trazendo para o contexto atual. Leia o versículo 13: “Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus”.
Até os líderes judaicos, declaradamente inimigos de Cristo, ficaram deslumbrados com Pedro e João. Porque? Lucas nos ajuda a descobrir porque as autoridades ficaram boquiabertas: apesar deles não serem doutores da lei, ou seja, tinham pouco estudo, eles eram ousados e corajosos.
De onde vinha tanta coragem? Dois homens que não demonstravam medo diante das prisões romanas, nem dos açoites e outras formas de torturas e sofrimentos infligidos à quem fosse contra o sistema dominante.
Se nos dias de hoje não é fácil suportar a pressão das autoridades, sufocando seus opositores através de métodos considerados válidos pela lei, imagine você naquela época que não existiam direitos humanos? Eles devem ter ouvido muitas ameaças amedrontadoras, mas nada conseguiu calar suas bocas nem mudar suas atitudes.
Isso é mais do que ousadia. É verdadeira convicção. Fé obstinada e focada em Cristo e somente Nele.
Ainda hoje, alguns líderes religiosos continuam a intimidar membros que são contrários ao seu estilo de liderança. Tais líderes, geralmente, utilizam as seguintes formas de intimidação: ameaças quanto à cargos na igreja, boatos caluniosos, etc… convencem a congregação a desprezar os “insatisfeitos”.
Se pastores nos fazem calar, quanto mais a perseguição de órgãos de governo ou coisa parecida. Aonde foi parar a nossa ousadia???
É fato que temos muito mais energia para combatermos àqueles que se consideram nossos inimigos do que àqueles que se dizem irmãos. A dor da traição dos que se dizem amigos é muito maior do que as agressões de nossos opositores declarados. São feridas que deixam cicatrizes enormes.
Além da ousadia outra coisa que deixou os líderes judeus impressionados foi a simplicidade dos apóstolos. Como homens sem instrução podiam falar com tanta firmeza como se fossem acadêmicos? Quem os tinha ensinado a falar assim? Tinha algo sobrenatural nisso tudo. Na verdade, cumpria-se a promessa de Cristo: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.26).
Hoje em dia a situação é bem diferente. Com os programas sociais adotados, principalmente pelas nações mais desenvolvidas, os índices de analfabetismos caíram muito. O Evangelho entrou em todas as camadas da sociedade, inclusive nas mais ricas.
Na atualidade, dificilmente uma igreja local aceita um ministror que não tenha pelo menos um curso médio de teologia. A lista de líderes Phd, doutores e mestres em universidades renomadas é altamente extensa e até surpreendente.
O paradoxo é que isso não melhorou o padrão de santidade das nossas igrejas. Infelizmente, nossa mensagem não tem mais atingido o mundo ao nosso redor como atingia no tempo dos apóstolos. Tornou-se acadêmica demais.
Generalizando, hoje em dia os diplomas valem muito mais do que uma vida consagrada a Deus. Perdemos o poder de inspiração do Espírito. Basta citar grandes autores, ter mensagens bem humoradas e de cunho psicológico e o pregador fica famoso e muitas vezes até rico.
O que fez os líderes judaicos reconhecerem que os apóstolos estiveram com Jesus foi a intrepidez, a coragem, o amor por Deus e por aqueles ouvintes, enfim, a grande verdade é que Pedro e João falavam parecidos com Cristo. Por isso, mais tarde os discípulos foram apelidados de cristãos. (At 11.26)
Deveríamos ficar extremamente felizes se quando abríssemos nossa boca as pessoas perguntassem: você já esteve com Jesus? Mas, olhando no espelho das nossas almas, temos dúvidas de que isso possa acontecer conosco.
Porém, podemos dar graças a Deus por sermos cristãos. Temos uma promessa: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo.” (Fp 1.6)
A Cristo pertence não somente a salvação, mas também o aperfeiçoamento da nossa vida. A igreja local, mesmo com todos os seus problemas, ainda é um lugar de restauração e santificação.
Concluindo, precisamos nos manter em contato com Cristo para nos santificarmos a cada dia. “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos…”
Até a próxima!!!
Deus o abençoe!!!
Notas
1. J. Williams, David. Atos, Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. São Paulo: Editora Vida, 1985.
Membro do Ministérios Justificação pela Fé, amigo fiel e apaixonado pela Teologia Reformada. Membro, líder de pequeno grupo e professor da EBD da Igreja Presbiteriana do Calvário de Sorocaba/SP.