Resenha – A Arte Expositiva de João Calvino

LAWSON, Steven J. A arte expositiva de João Calvino. São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. Resenhado pelo pastor Antonio Paulo Castro Corrêa, aluno de Pós-graduação em Pregação Expositiva pela Faculdade Teológica Reformada de Brasília.

A Arte Expositiva de João Calvino, traz um panorama da vida do pastor e teólogo João Calvino que desempenhou a maior parte do seu ministério na cidade de Genebra, além disso demonstra como ele preparava e pregava seus sermões expositivos.

Foi escrito pelo pastor, escritor e professor do Expositor’s Institute Steven J. Lawson com o objetivo “de contribuir para elevar o nível da nova geração de expositores”. Editado pela Editora Fiel, em 2017, possui um número total de 142 páginas e faz parte de uma série que descreve o perfil de homens piedosos.

Recebeu endosso de renomados teólogos, tais como Joel R. Beeke, Derek W. H. Thomas, Hywel R. Jones, R. Kent Hughes e Alonzo Ramirez. Atualmente encontra-se na primeira edição, porém já está na 4a reimpressão devido à sua importância, principalmente, para aqueles que buscam elevar o nível de suas pregações expositivas.

Esta obra apresenta a seguinte estrutura: A Vida e o Legado de Calvino, Aproximando-se do Púlpito, A Preparação do Pregador, Iniciando o Sermão, Explicando o Texto, Falando com Ousadia, Aplicando a Verdade, Concluindo a Pregação e a Conclusão do livro. Por fim, existem dois apêndices: A – Distribuições de versículos feita por João Calvino para sua série de sermões (2Samuel, Miquéias e Efésios) e B – Esboço Implícito de João Calvino da pregação em Jó 21.13-15. Apesar dos apêndices merecerem atenção, esta resenha abordará somente os capítulos 1 a 8 e a conclusão. Entendemos que o livro tem duas partes, onde consideramos a primeira como sendo o capítulo 1 e a segunda seria composta pelos demais capítulos.

Primeira parte do livro: Vida e legado de Calvino

O autor faz um levantamento detalhado da vida e do legado do grande expositor de Genebra. Juntamente com a opinião de Emile Doumergue e D`Aubigné, o autor evidenciou que a pregação era prioridade no ministério pastoral de Calvino, embora ele seja lembrado mais como teólogo e um argumentador inteligente. Nasceu em 10 de Julho de 1509, na zona rural de Noyon, França e por causa dos seus pais, ele foi criado para ingressar no sacerdócio da Igreja Católica. Aos 17 anos se formou em Ciências Humanas na Universidade de Paris, depois na Universidade de Bourges. Em 1532, publicou seu primeiro livro que foi um dissertação do seu doutorado. Ao ser apresentado ao Evangelho, converteu-se repentinamente. Levando-o a abandonar a Igreja Católica Romana com o objetivo de se unir à crescente causa protestante.

 

Com relação a sua vida pessoal, Ele foi casado com a viúva Idelette Stordeur que já tinha filhos. Ela engravidou duas vezes, porém uma não foi até o fim e o que não abortou, morreu duas semanas após o nascimento. Diante dessa história difícil e triste, é possível perceber como a Palavra de Deus fez diferença em sua vida. Disse ele após a morte de seu filho: “Certamente o Senhor nos infligiu uma dolorosa ferida com a morte de nosso filho. Mas Ele próprio é pai e sabe o que é bom para seus filhos”. Em seguida, sua esposa também morreu. Ele nunca mais casou e se dedicou ao ministério.

 

Segunda parte do livro: Características da pregação de Calvino

Do capítulo 2 ao 8, LAWSON abordou o que marcou a pregação de Calvino. Foram mencionadas 32 características1, que seriam úteis para elevar o nível das pregações do século XXI e das próximas gerações. Entendemos a posição do autor, uma vez que existem muitas pregações baseadas mais em desejos pessoas e interesses egoístas do que realmente nas Escrituras. Como mencionou Calvino, “qualquer professor da Bíblia, independentemente de ser humilde ou notável, que decide ‘misturar suas invenções à Palavra de Deus, ou que sugere qualquer coisa que não faça parte dela, deve ser rejeitado, por mais ilustre que seja sua posição’”.

Concordamos que todas as características são relevantes, porém gostaríamos de mencionar as que julgamos ser mais necessárias no contexto atual do cristianismo evangélico brasileiro:

 

Autoridade Bíblica. Ele acreditava que as Escrituras eram a Palavra de Deus e por isso elas mereciam “a mesma reverência que devemos a Deus, porque elas procedem somente dEle, e não há nada do homem misturado a elas”. Concordamos e acreditamos que não crer assim geram pregações sem o poder de Deus, ocasionando descrença na autoridade Bíblica;

Presença Divina. A crença na inspiração bíblica o levou a insistir que quando a Palavra é pregada, o próprio Deus está, de fato, presente. Esse ponto tem sido esquecido em muitas igrejas. A pregação não tem sido vista como uma mensagem vinda do Deus presente no púlpito, mas de homens somente. Talvez por isso alguns acreditam que o pastor está dando uma indireta quando na verdade é Deus que está falando.

A Prioridade do Púlpito. A maior parte do culto deveria se concentrar na pregação. Segundo Calvino, “O que Deus tem a dizer ao homem é infinitamente mais importante do que as coisas que o homem tem a dizer para Deus”. Contudo, hoje, o louvor, teatro e até danças estão sendo mais importantes do que a pregação em termos de tempo e relevância.

Um coração devotado. Ele “acreditava não só que a mente precisa ser cheia da verdade da Palavra, mas também que o coração deve ser devotado à piedade”. Um pregador usado por Deus precisa necessariamente buscar uma vida santa. A mensagem é primeiro para o pregador e depois para os outros. Hoje, é mais necessário Deus trabalhar no coração dos pregadores do que na construção da mensagem.

Contexto Bíblico. Calvino buscava levar a congregação ao conhecimento do pensamento do autor bíblico, bem como do público original ao qual ele se dirigia. Isso garantia uma maior fidelidade na exposição do texto bíblico. Esse tipo de trabalho ainda é carente no ministério de muitos pregadores.

Precisão Exegética. Ele “insistia para que as palavras em cada passagem fossem consideradas em seu contexto histórico e dentro de sua estrutura gramatical”. Ao fazer isso, ele buscava revelar o significado planejado pelo autor do texto bíblico. Isso tem sido negligenciado por grande parte dos pregadores, levando muitos dos seus ouvintes a um mal compreensão da Palavra de Deus.

Perguntas Estimulantes. Seriam perguntas para forçar as pessoas a pensar. Através delas a atenção de sua congregação era conquistada. Algumas eram retóricas, que serviam para estimular as pessoas a considerarem a questão óbvia que estava sendo ditas. Muito precisa ser imitado nessa área hoje, pois existem pregações tediosas e com palavras difíceis que ao invés de estimular o pensamento faz muitos desistirem de ouvir a Palavra de Deus.

Um número limitado de Citações. Segundo Packer “de fato, são raras as ocasiões em que Calvino cita outro autor pelo nome”. Quando ele mencionava os escritos de alguém, com frequência o fazia de uma maneira discreta ou indireta. Ele desejava que a ênfase permanecesse no escritor bíblico, e não em fontes extra bíblicas. Hoje muitos pastores se concentram tanto em outros autores para mostrar o quanto sabem, que pouco se ouve a Palavra de Deus.

Repreensão amorosa. Quando ele sabia que membros de seu rebanho estavam brincando com o pecado ou vivendo nele, ele criticava abertamente aos maus hábitos. Criticar uma prática é muito diferente de expor a vida das pessoas. Ele convidava sua congregação a prestar contas diante de Deus e os exortava a viver vidas santas.

Apelo Urgente. diferente do que muitos pensam, Calvino fazia apelo ao final das suas mensagens. Não estamos dizendo que ele fazia um “apelo” da forma como é popular hoje em dia. Era bem diferente, ele incentivava uma resposta do intelecto e das afeições dos ouvintes. Às vezes, ele ordenava a confissão de pecados e o arrependimento pesaroso, apelando para que os pecadores errantes se lançassem em completa dependência à soberana misericórdia de Deus. Ele desejava mudança de vidas. Esse apelo é necessário fazer hoje, uma vez que muitos pregam expositivamente e finalizam como se estivessem simplesmente resumindo um livro.

 

Conclusão

No fim do livro, o autor lembra que “da mesma maneira como a igreja organizada estava espiritualmente arruinada no início dos dias de Calvino, assim também acontece em nossa época”. Não existe fórmula mágica, mas aprender com o passado pode ser um caminho. Por exemplo: atualmente o pastor Timothy Keller, conhecido por ter excelentes e penetrantes pregações, tem escrito e ensinado sobre pregação de forma muito semelhante a Calvino.

Steven Lawson e o John MacArthur, também são exemplos de excelentes expositores. Eles têm impactado nossa época, em grande parte pela prática de algumas caraterísticas mencionadas neste livro. Esperamos que Deus levante mais pessoas fiéis à Bíblia e que não desprezem os homens usados no passado que pregaram o Evangelho de Jesus Cristo.

Em Cristo e com Amor,

Pr. Paulo Corrêa


1. As 32 características mencionados no livro são as seguintes e nesta ordem: Autoridade bíblica; Presença divina; A prioridade do púlpito; Exposição sequencial; Uma mente zelosa, Um coração devotado; Uma determinação inabalável; Direto ao Assunto; Pregação sem esboço; Contexto bíblico; Tema declarado; Um texto específico; Precisão exegética; Interpretação literal; Referências cruzadas; Raciocínio persuasivo; Conclusões racionais; Palavras familiares; Expressões cheias de vida; Perguntas estimulantes; Uma reiteração simples; Um número limitado de citações; Um esboço implícito; Transições diretas; Intensidade centrada; Exortação pastoral; Avaliação pessoal; Repreensão amorosa; Confrontação polêmica; Um resumo de reafirmação; Apelo urgente; e Intercessão Final.

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