O Crente e as Bênçãos da Salvação

1. INTRODUÇÃO

A palavra “crente” hoje em dia está banalizada, pois existem pessoas que acreditam ser crente somente porque têm uma “vida religiosa”. O Apóstolo Tiago lembra que uma vida religiosa não torna o “crente” diferente dos demônios: “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem” (Tg 2:19)

Por isso vamos considerar aqui o significado real desta palavra, que consiste em classificar todo aquele que crê em Jesus Cristo e tem um relacionamento com Deus de acordo com a Bíblia.Substituiremos neste artigo o termo crente por salvo. Os filhos de Deus, os que têm a vida eterna, são agraciados pelas estupendas obras de Deus que compõem a salvação. De acordo com Lewis Chafer, essas obras são operadas instantaneamente e simultaneamente por Deus e são eternas, pois se baseiam no mérito de Cristo.

Existem cerca de 33 benefícios relacionados à salvação, porém serão citados os principais: perdão dos pecados, redenção, reconciliação, justificação, regeneração, adoção, libertação do poder das trevas, comunhão e vida eterna com Deus. Cada um desses benefícios será comentado nessa ordem com o objetivo de explicar de maneira sistemática, mas não necessariamente existe uma ordem de importância. Todos são importantes.

2. BENEFÍCIOS RELACIONADOS À SALVAÇÃO

2.1. PERDÃO DOS PECADOS

Chafer, afirma que além do salvo estar integralmente diante de Deus, este pode andar em paz duradoura em Cristo e ser justificado para sempre. Louis Berkhof acrescenta dizendo que,assim como o levantamento da serpente no deserto significou a remoção da praga (Nm 21:8-9), o levantamento de Cristo na cruz efetuou a remoção do pecado. Semelhantemente, assim como o olhar para a serpente trazia a cura, a fé em Cristo cura e salva a alma.

Nesse sentido, o Apóstolo Paulo fez questão de afirmar que todos os pecados dos salvos foram perdoados: “… estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz;” (Cl 2:13-14).

Resultado: Liberdade da condenação eterna. Uma vez salvo da condenação, sempre salvo.

2.2. REDENÇÃO

Segundo Chafer, os eleitos foram comprados no “mercado de escravos (do pecado)” e libertos para sempre dojugo da servidão (Gl 5:1). Esta liberdade ocorreu no momento em que “Cristo se encarregou de expiar os pecados do Seu povo, sofrendo pessoalmente a punição necessária, e de satisfazer as exigências da lei pelo mesmo povo. Ele tomou sobre Si as responsabilidades do Seu povo”, de acordo com Berkhof.

Resultado: Liberdade da escravidão do pecado.O ato de pecar deixa de ser uma prática.

2.3. RECONCILIAÇÃO

Berkhof afirma que Deus reconciliou Consigo o mundo, não lhe imputando os seus pecados. Aqui é mencionada a reconciliação da humanidade não mostrando nenhuma mudança moral ocorrida no homem, e “sim o fato de que as exigências da lei estão satisfeitas e que Deus está satisfeito”. A morte da cruz era para os pecadores, porém Jesus Cristo morreu no lugar dos pecadores.

A mudança moral acontece somente nos eleitos que se arrependem de seus pecados, convencidos pelo Espírito Santo e se reconciliam com Deus mediante a fé em Jesus Cristo. Quando o eleito se reconcilia com Deus (2Co 5:20), por meio de Jesus Cristo, o mesmo se encontra numa posição de bem-aventurança, lembra Chafer.

O Apóstolo Paulo ensina em 2Co 5:17-18: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação”.

Resultado: Reconciliação do salvo muda completamente sua relação com Deus.

2.4. JUSTIFICAÇÃO

“Os termos justiça (imputada) e justificação representam conceitos diferentes, mesmo possuindo a mesma raiz grega. O salvo é constituído justo em virtude de sua posição em Cristo, mas ele é justificado por um decreto declarativo de Deus”. Ou seja, a justiça imputada é um fato permanente e a justificação é um reconhecimento divino deste fato, de acordo com Chafer.

De acordo com o dicionário VINE, justiça é uma “execução de uma sentença” (2Ts 1:9;Jd 7). Quando Cristo morreu na cruz, foi transferida a sua justiça para os salvos, tornando-os justificados em Cristo. R.C. Sproul diz: “Não somente Jesus foi punido por nossos pecados, como sua justiça é a base meritória para nossa justificação”.

A justificação do salvo é imerecida, como está escrito: “sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” (Rm 3:24). Como benefício de termos sido “justificados mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1). Além disso, a justificação “inclui o perdão de pecados, a adoção de filhos e o direito a uma herança eterna”, enfatiza Berkhof.

Resultado: Justificação, mediante a fé em Cristo, de todos os pecados dos salvos.

2.5. REGENERAÇÃO

Chafer define a palavra regeneração (do grego: paliggenesia) por novamente, uma vez mais, e genesi que significa nascimento, criação. Berkhof diz que esse termo pode “denotar simplesmente a implantação da nova vida na alma, sem as primeiras manifestações desta vida”.

Em relação a esse tema Sproul comenta “Lembramo-nos que na regeneração Deus cria em nós um desejo por Ele. Mas, quando tivermos esse desejo plantado em nós, continuaremos a funcionar como sempre temos funcionado, fazendo nossas escolhas de acordo com a motivação mais forte do momento. Se Deus nos dá um desejo por Cristo, agiremos de acordo com esse desejo. Muito certamente escolheremos o objeto desse desejo, escolheremos Cristo. Quando Deus nos faz espiritualmente vivos, tornamo-nos espiritualmente vivos. Não é meramente a oportunidade de nos tornarmos espiritualmente vivos que Deus cria. Ele cria vida espiritual dentro de nós. Quando Ele chama alguma coisa à existência, isso vem à existência.”

A regeneração só pode ser realizada pelo Espírito Santo (Tt 3.5). Todos os que foram regenerados são salvos em Cristo Jesus (2 Co 5.17), não são mais filhos da desobediência, escravos do pecado e obedientes ao príncipe das potestades do ar (Ef 2.2-3).

Resultado: Novo nascimento em Cristo: O salvo é uma nova criatura. É filho de Deus por adoção.

2.6. ADOÇÃO

Berkhof diz que os salvos são descritos como filhos de Deus, legalmente por adoção e eticamente pelo novo nascimento (Jo 1.12; Rm 8.15, 16; Gl 4.4-6; 1 Jo 3.1-3, 9). A adoção divina refere-se tanto ao parentesco de Israel com Deus(Rm 9:4) quanto à redenção do corpo dos salvos (Rm 8:23).

Resultado: Os salvos são filhos de Deus por adoção. Isto significa queo salvo tem outra filiação: divina!

2.7. LIBERDADE DO DOMÍNIO DE SATANÁS

Satanás tem poder sobre o não-salvo (“filhos da desobediência”) cegando-o em relação ao evangelho(Ef 2:1-2). Em Cl 1:13 temos: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”. Segundo Chafer essa mudança para o reino é estritamente local, ou seja, ela acontece no momento em que a fé salvadora é exercida. “Exortamos, consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para o seu reino e glória”(1 Ts 2:12). Berkhof enfatiza “O reinado espiritual de Cristo é o Seu governo real sobre o regnum gratae, isto é, sobre o Seu povo ou Sua igreja. É um reinado espiritual, porque se relaciona com uma esfera espiritual. É o governo mediatário estabelecido nos corações e nas vidas dos salvos.”

Resultado: Os salvos iniciam sua participação do reino de Deus após a regeneração.

2.8. VIDA ETERNA

Quando pensamos em vida eterna, somos levados a pensar que esta vida começa somente depois que morremos, mas essa afirmaçãonão é verdade. Durante uma conversa com uma mulher samaritana Jesus deixou claro: “… aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna (Jo 4:13-14). De acordo com o contexto de João 4, Jesus afirma que quem beber da água dada por ele nunca terá sede e uma fonte de água, nesta pessoa, vai jorrar desta vida à eternidade.

O Novo Testamento diz que o salvo tem participação de uma nova vida, e esta vida é Cristo habitando nele (Cl 1:27); “Cristo é a nossa vida” (Cl 3:4); “E o testemunho é este: que Deus nos a vida eterna; e esta vida está no seu Filho” (1Jo 5:11), lembra Chafer.

Resultado: O salvo tem a vida eterna a partir do momento de sua salvação.

2.9. COMUNHÃO COM DEUS

Comunhão com Deus significa ter relacionamento com Ele. De acordo com John Piper, este relacionamento fundamentalmente acontece pelo Espírito Santo, através da Palavra de Deus. Quando o salvo está em comunhão com Deus:

  1. A vida eterna de Jesus fluí na vida do salvo através do Espírito Santo e como conseqüência disso, o amor Deus é manifestado na prática. “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1 Jo 3:18)
  2. “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (1 Jo 3:14). O salvo tem duas convicções: a da sua salvação e da libertação do pecado (de morte). Pedro exorta: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis(2 Pe 1:10).
  3. Assim como o Pai estava com Jesus e através de Jesus o Pai fazia todas as obras (Jo 14:9-10), o salvo estando em Cristo, o Espírito Santo operará obras muito maiores do que Jesus fez através da vida do salvo (Jo14:12).
  4. A vida eterna manifesta-se na vida do salvo, através do amor de Deus colocado em prática (produzir bons frutos). “Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.” (Jo 15:4).
  5. O salvo tem a certeza de ser filho de Deus, pois “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1 Jo 3:9).

Resultado: O Espírito Santo fará obras excelentes por meio do salvo, como resultado da vida eterna que fluí neste, dando-lhe convicção de sua salvação.

3. CONCLUSÃO

“A salvação é uma obra de Deus para o homem e não uma obra do homem para Deus. É o que o amor de Deus o impele a fazer e não um mero ato de compaixão que resgata a criatura de sua miséria” afirma Chafer. Em outras palavras, a salvação vem de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, não vem do homem, é Deus quem dá (Ef 2:8). Deus dá livremente em Cristo e através Dele.Todo aquele que crê em Jesus Cristo é salvo.A partir desse momento todas as bênçãos descritas acima se tornam reais na vida do salvo, tendo como resultados:

  1. Liberdade da condenação eterna. Uma vez salvo da condenação, sempre salvo.
  2. Liberdade da escravidão do pecado. O ato de pecar deixa de ser uma prática.
  3. Reconciliação do salvo muda completamente sua relação com Deus.
  4. Justificação, mediante a fé em Cristo, de todos os pecados dos salvos.
  5. Novo nascimento em Cristo: O salvo é uma nova criatura. É filho de Deus por adoção.
  6. Os salvos iniciam sua participação do reino de Deus após a regeneração.
  7. Os salvos são filhos de Deus por adoção. Isto significa que o salvo tem outra filiação: divina!
  8. O salvo tem a vida eterna a partir do momento de sua salvação.
  9. O Espírito Santo fará obras excelentes por meio do salvo, como resultado da vida eterna que fluí neste, dando-lhe convicção de sua salvação.

Notas:

1. BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 3 ed. Campinas: Luz para o Caminho, 2002.

2. CHAFER, Lewis S. Teologia Sistemática. São Paulo: HAGNOS, 2003.

3. SPROUL, R.C. Eleitos de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002.

4. VINE, W.E. Dicionário VINE. 6 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

5.PIPER, John. O que significa “ter um relacionamento com Deus”? Site bomcaminho.com.

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