Certa vez precisei dar um estudo bíblico para os adolescentes sobre feminismo. Eles queriam saber se um cristão poderia ser feminista. Essa foi uma boa pergunta e tem alcançado todas as faixas etárias, principalmente quando nos deparamos com definições de feminismo[1] como essa do portal Brasil Escola(fonte de muita pesquisa escolar): “é o movimento social que luta contra a violência de gênero e pela igualdade de direito e de condições das mulheres na sociedade”. Mas será que essa definição significa que um cristão pode ser feminista? Talvez se conhecermos mais sobre o feminismo, seja possível responder. Vamos lá?
1. OBJETIVOS DO MOVIMENTO:
Não pretendemos fazer uma análise histórica completa, mas pontual e compacta.
a) A primeira onda do feminismo ocorreu entre os séculos XVIII a XX
Essa primeira onda usou a luta pelos direitos civis das mulheres como carro chefe. Elas não tinham direitos como:
- Cursar uma universidade;
- Votar nas eleições políticas;
- Escolher empregos melhores;
- Exercer profissões como teologia, medicina e advocacia;
- Ter investigações severas dos crimes sexuais/violência sofridos;
- Receber salário equitativo pelo mesmo trabalho realizado por homens;
- etc…
Apesar das motivações do feminismo terem sido variadas, e principalmente políticas, a luta por esses direitos foram importantes e ainda são. Até nisso vemos a mão de Deus através da sua graça comum. Contudo, ao invés de muitos cristãos serem influenciados pelo feminismo, deveriam ser movidos pelo Evangelho. A boa notícia de que todo ser humano é a imagem e semelhança[2] de Deus, é poderosa para combater as desigualdades e injustiças deste mundo pecador. Sim, a luta de um cristão deve ser pelo Evangelho e no Evangelho para glória de Deus. Deus tem todo o poder para santificar uma sociedade ao ponto de fazer diferenças de direitos regredirem. Pois as desigualdades, as injustiças e os preconceitos são frutos do pecado, e só deixarão de existir somente quando Jesus voltar. Até lá, é fundamental vivermos e pregarmos o Evangelho para restaurar pecadores, independente da classe social, raça, gênero e crença.
b) Etapa atual do feminismo
Com o tempo, os motivos do feminismo progrediram para princípios mais perigosos e antibíblicos. Ora, o “ter os mesmos direitos dos homens” foi ressignificado para “ter a obrigação de exercer os mesmo direitos dos homens para serem mulheres”, se possível, até mesmo contra a própria vontade de muitas delas. Por exemplo, muitas delas queriam o direito de trabalhar quando quisessem ou fosse necessário, ou seja, elas queriam ter a opção de escolher e não a obrigação de ter que trabalhar fora de casa para mostrar que é “mulher”. Muitas sentiam-se satisfeitas em serem dona de casa, etc. Mas diferente da primeira onda, nessa nova etapa a opressão do feminismo tem sido implacável e alcançado cada vez mais mulheres, geralmente, vítimas[3] de traumas, de abusos, de famílias desestruturadas, e até meninas abaixo de 13 anos.
O conceito de família segundo Deus e os papéis do homem e da mulher definidos por Deus na Bíblia passaram a ser mais atacados. Além disso, o feminismo exigi que o mundo seja tudo pela perspectiva do novo conceito de “mulher” segundo estudos sociológicos[4]. Para quem não sabe, a sociologia foi criada por Auguste Comte[5](pai do positivismo) que acreditava ser necessário criar uma ciência “pura” sem interferência da teologia e da filosofia. Portanto, a visão feminista resignifica “mulher” diferente do natural da criação divina (Gênesis 2).
1. O feminismo quer ressignificar as relações sociais:
- A mulher é superior em tudo e a todos;
- A mulher não precisa do homem;
- A mulher tem a obrigação de trabalhar fora de casa para ser feliz e se sentir útil.
2. O feminismo quer ressignificar a Bíblia:
- Reinterpretar a Bíblia: Pois essa diferença de papéis passou a ser vista como responsável por incentivar as “diferenças de direitos entre homem e mulher”;
- Tirar o patriarcado (o governo do pai) da Bíblia: O domínio social do macho e a inferioridade e a submissão da fêmea são o problema principal da insatisfação da mulher;
- Tirar os termos masculinos da Bíblia: O Deus Pai deveria se chamar “Sofia” e todos os termos referentes ao masculino devem ser retirados; Jesus, o Filho de Deus, passaria a ser chamado de “a criança de Deus”.
2. RESPOSTA DO EVANGELHO AO FEMINISMO
Até aqui vimos motivos suficientes para perceber que um cristão não pode ser feminista. Mas, vamos avançar nas respostas do Evangelho ao feminismo, pois assim como o apóstolo Paulo precisou lembrar aos crentes em Roma a necessidade de obedecer ao Evangelho (Rm 12.1-2), hoje, em pleno século XXI, essa advertência ainda se faz necessária:
“Portanto, irmãos, pelas misericórdias de Deus, peço que ofereçam o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Este é o culto racional de vocês. E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
O feminismo é um dos padrões deste mundo que valoriza e exalta a justiça própria das mulheres através de promessas mentirosas de liberdade e felicidade, colaborando para inflar o ego delas. A missão do ego é tomar o lugar de Deus em nosso coração através da nossa justiça própria. Quanto mais o EGO cresce, mais idólatras e escravos de nosso “EU” seremos – o mesmo vale para o machismo, outro padrão deste mundo. Portanto, a justiça própria incentivada pelo feminismo não produz felicidade como é vendido, mas produz um enorme fardo para elas, uma vez que o ego é insaciável e conduz a muitos pecados [6], inclusive de morte.
Mas o Evangelho nos diz que somos salvos da ira de Deus e da condenação dos nossos pecados quando somos justificados pela fé. Momento único em que os nossos pecados são lançados em Cristo e em troca recebemos a sua justiça e o perdão de todos os nossos pecados (passados, presentes e futuros). Depois dessa mudança radical, deixamos de viver para satisfazer nosso ego, porque a nossa justiça, agora, é a de Cristo. Como filho(as) de Deus, pela fé em Jesus, encontramos felicidade verdadeira à medida que nos esforçamos para andar em santificação e no poder do Espírito Santo.
A luta contra o nosso ego ainda existirá até a volta de Cristo, mas até lá o nosso ego não reina mais em nosso coração, pois fomos justificados pela fé em Cristo de uma vez por todas. Nosso relacionamento é restaurado com Deus, deixamos de ser seus inimigos. Por isso, homens e mulheres justificados tem a capacidade de serem humildes o suficiente para desejar o mesmo que João Batista[7]: “convém que ele cresça e que eu diminua”. Cristo se tornará mais visível através de nós, à medida que crescemos na obediência ao Evangelho. É o que Deus espera dos cristãos.
2.1. O Evangelho traz o fardo leve de Cristo.
A filosofia feminista diz que a mulher é superior a tudo e a todos, e exige extrema perfeição delas! Isso é colocar um fardo pesado demais sobre elas, que ninguém neste mundo pode suportar. Contrário ao feminismo, o Evangelho revela que somente Cristo é superior a tudo e a todos[8], porque somente Ele é perfeito e Deus. Só Cristo tem autoridade para dar um fardo leve[9]: “Meu jugo é fácil de carregar, e o fardo que lhes dou é leve”. Portanto, se as mulheres viverem o Evangelho, elas receberão o fardo leve de Cristo; e se livrarão da obrigação de serem perfeitas. Então, serão livres dos fardos pesados do feminismo e encontrarão a paz e o sentido de vida no autor da vida, Jesus Cristo!
2.2. O Evangelho é a ausência de independência.
Deus não criou o homem para ficar só, por isso criou a mulher. De igual modo, a mulher não foi criada para ficar só, por isso o homem existe. Pois, “no Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem é independente da mulher. Porque, assim como a mulher foi feita do homem, assim também o homem nasce da mulher; e tudo vem de Deus[10]”. Ambos precisam um do outro. Aqui é importante observar uma coisa: os métodos científicos de fertilização e a adoção de crianças são meios permitidos por Deus para as mulheres serem mães, e não uma forma das mulheres serem independentes dos homens. Portanto, o feminismo traz para a mulher uma vida sem Deus, solitária, homossexual e libertina, mas o Evangelho as levam a experimentarem ausência de solidão: 1. Através da presença de Deus[11] pela fé em Jesus; e 2. pelo casamento, onde elas poderão ter um marido, filhos e família por toda vida.
2.3. O Evangelho traz satisfação plena em Cristo.
Se sentir útil no trabalho fora de casa é bom e um direito de todos, mas trabalhar fora nunca trará satisfação plena para ninguém. Somos pecadores, por isso nascemos com uma “religião natural”, nossa justiça própria, que procura satisfazer nosso ego que nos cobra para encontrarmos “satisfação completa” somente em nós. O feminismo alimenta o ego pois, em outras palavras, diz: “a mulher se basta”. Mas, só é possível ter satisfação plena fora de nós, em Cristo[12]! Ele morreu em nosso lugar para que pudéssemos ter vida abundante e satisfação plena Nele[13]. Jesus é a vida que precisamos! Só Nele podemos vencer os ataques das insatisfações do ego que iniciaram com o primeiro pecado cometido no Éden. Portanto, é o Evangelho, e não o feminismo, que pode nos satisfazer plenamente.
2.4 O Evangelho é contra o feminismo e o machismo.
Antes do pecado, Adão governou o mundo e tudo era perfeito e bom[14]; e sua esposa, Eva, não tinha nada para reclamar. Porém, após pecarem, eles se desviaram da vontade de Deus. Então, Adão não assumiu seu pecado de negligência com a esposa e ainda colocou a culpa nela, tratando-a como inferior (machismo). Eva negou a autoridade do marido ao aceitar falar sozinha com a serpente e depois não assumiu seus pecados (feminismo), mas colocou a culpa na serpente[15]. O Evangelho é contra esses pecados pois defende a feminilidade e masculinidade através dos papéis do homem e da mulher que vieram[16] de Deus[17] . Homem e mulher têm papéis diferentes e se completam: a mulher deve ser submissa ao marido como a igreja é ao Senhor Jesus; e o homem deve amar sacrificialmente sua esposa, dando sua vida por ela assim como Cristo fez pela igreja[18].
2.5. O Evangelho revela a importância da masculinidade e da feminilidade.
No Evangelho Jesus lembra aos fariseus do início da humanidade: “vocês não leram que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher[19]”? Essa ideia feminista de tirar os termos masculinos da Bíblia é diabólica e prejudicial. Diabólica porque pretende mudar a Palavra imutável e inerrante de Deus: por exemplo, Deus Pai seria a “Sofia” e Jesus, o Filho de Deus, a “criança de Deus”. Prejudicial para todos, pois “parte da grandeza de ser um ser humano vivo e criado à imagem de Deus é que você é homem ou mulher”[20]. Por tanto, as feministas dizendo-se sábias, tornaram-se loucas[21]. É o distanciamento de Deus que faz muitos se sentirem que se tivessem nascido no corpo errado (pecado do homossexualismo). O Evangelho revela que isso é mentira, pois Deus já definiu nosso gênero na eternidade[22] para a sua glória e para a conservação da família.
3. CONCLUSÃO
Precisamos da graça de Deus para nos capacitar a viver o Evangelho, principalmente em tempos tão confusos e perturbadores. Jesus disse que se estivermos firmados [23]Nele, nossa fé, esperança, sentimentos, pensamentos e vida não serão abalados. Pois, pelas nossas próprias forças e nossa justiça própria, jamais conseguiremos lutar pelos direitos das mulheres como Deus deseja. Precisamos viver o Evangelho que é poder de Deus para salvar qualquer um que se arrependa dos seus pecados! Se pessoas forem alcançadas pelo Evangelho, sociedades podem mudar e assim a descriminação do sexo feminino diminuirá significativamente – pois somente com a volta de Cristo todas as injustiças sumirão. Portanto, os cristãos (homens e mulheres) não podem ser feministas porque estariam sendo contra o Evangelho de Jesus.
O Evangelho é o poder de Deus, o antídoto para uma sociedade corrompida pelos “padrões deste mundo”. Todo aquele que deseja experimentar a paz e a satisfação que somente Deus pode dar, precisa se arrepender dos seus pecados e depositar sua fé somente em Cristo. Vivamos o Evangelho, pela graça de Deus e com certeza não seremos machistas nem feministas, mas filho(a) de Deus para sempre e fortaleceremos nossas famílias. Enquanto o feminismo quer destruir vidas, uma nova vida aguarda aqueles que creem no Evangelho. Jesus voltará para buscar sua igreja, aqueles que foram justificados somente pela fé em Jesus! Quando ele voltar, iremos morar para sempre com Deus na nova criação, onde não haverá pecado, dor nem a morte. Amém.
Fontes
1. PEACE, Martha. Mulheres em Apuros: Soluções bíblicas para os problemas que as mulheres enfrentam. SP, FIEL 2011. Pg 133-144.
2. LOPES, Augustos Nicodemus. Visto dia 30/03/2016 – “Um Cristão pode ser feminista?” http://youtube.com/watch?v=tWVhyO18PPA
3. BRAGA, Norma. Visto dia 31/03/2016 – “Feminilidade e o Papel da Mulher”
4. Portal Brasil Educação – https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-feminismo.htm
Referências
[1] https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-feminismo.htm
[2] Gênesis 1.27
[3] Sara Winter, https://www.youtube.com/watch?v=z7ux_u9ZvI4
[4] https://www.infoescola.com/sociologia/feminismo/
[5] https://www.todoestudo.com.br/sociologia/positivismo
[6] Tiago 1.13-15
[7] João 3.30
[8] Romanos 11.36
[9] Mateus 11.30
[10] 1 Coríntios 11.11-12
[11] Mateus 28.20
[12] João 6.68
[13] João 6.68; Gênesis 3
[14] Gênesis 1-2
[15] Gênesis 1-3
[16] 2 Pedro 1.20-21
[17] 2 Timóteo 3.16
[18] Efésios 5.21-23
[19] Mateus 19.4
[20]https://ministeriofiel.com.br/artigos/principais-ensinos-de-john-piper-a-masculinidade-e-feminilidade-biblica/
[21] Romanos 1.20-22
[22] Salmos 139.13-16
[23] Mateus 7.24
Obs: Esboço da palestra dada na reunião de adolescentes(LIGA) da Igreja Batista Central de Taguatinga dia 01/04/2016. Revisado em 10/06/2021
Integra a equipe de pastores do presbitério da Igreja Batista Reformada de Brasília, Águas Claras/DF. Fundador e Editor do Ministério Justificação pela Fé. É formado em Teologia Livre pelo Seminário Martin Bucer/SP, pós-graduado em Pregação Expositiva e mestrando em Teologia Sistemática pela Faculdade Teológica Reformada de Brasília/DF. É Casado com Pâmela Corrêa, com quem tem uma filha, Ana Corrêa.
Para convites para ministração, acesse: http://tiny.cc/jl5trz