Somos pessoas distraídas. Perdemos o foco facilmente. Por várias vezes deixamos o principal para nos dedicarmos ao secundário. Às vezes precisamos de alguém para nos “sacudir”, a fim de voltarmos para os trilhos.
Foi exatamente isso que Cristo fez com seus discípulos e, hoje, continua fazendo a mesma coisa conosco.
No versículo anterior (At 1.6-7) os discípulos indagaram Cristo sobre o fim dos tempos. Ele muda o foco deles respondendo que “não lhes competia saber essas coisas”, ou, em outras palavras, esse assunto não era importante e inicia sua próxima frase com a conjunção “mas”.
O que a conjunção “mas” significa??? Vejamos cada os possíveis significados da conjunção mas:
a) Após negativa, estabelece (ou restabelece) a verdade sobre determinado assunto: Cristo estava colocando as coisas em seus devidos lugares. Não lhes era permitido saber sobre o futuro. O importante era conhecer a missão deles neste planeta.
Quantas vezes fazemos isso não é mesmo??? Queremos saber qual foi a marca da escova de cabelo que Sansão usou, quem foi a mulher de Caim, o que aconteceu com os dinossauros, etc. Quantas discussões e tempo perdido por nada. Ao invés disso, deveríamos perguntar: Senhor, o que queres de mim??? Eis-me aqui.
O apóstolo Paulo adverte seu pupilo Timóteo: “não se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora.” (I Tim 1.4). Em outras palavras, não desperdicem seu tempo, ao contrário, “andais como sábios e aproveitem bem o tempo, porque os dias são maus”. (Ef 5.15-16).
b) Contrasta uma interpretação: Percebe-se que os apóstolos estavam interpretando erroneamente a situação. Como todo judeu, eles aguardavam o tempo em que Israel reestabeleceria o seu reinado, vencendo os seus algozes. Passaram mais de três anos andando com Jesus e ainda não tinham compreendido o significado de “reino de Deus”.
O que isso nos mostra??? Somente o Espírito Santo pode revelar as verdades contidas nas Escrituras e no coração de Deus. Só depois de receber o Espírito Santo é que eles passaram a concentrar-se na expansão do Reino de Deus.
Por isso Cristo teve que contradizer a interpretação errônea deles. Lembrá-los que o “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. (Rm 14.17).
Nesse reino tudo é diferente. O ambiente é espiritual e não terreno. As armas são espirituais e não carnais. O poder é espiritual, e não político. Quem perde ganha, quem se humilha é exaltado, quem chora é consolado, os últimos são os primeiros. “Enfim, é um reino baseado na loucura de Deus que é mais sábia que a sabedoria dos homens e na fraqueza de Deus que é mais forte que todo poder dos homens”. (I Cor 1.25).
Depois de colocar as coisas novamente no prumo, Cristo lhes fala sobre o verdadeiro futuro deles.
Jesus afirma que os apóstolos receberiam poder. Como eles receberiam??? Porque eles receberiam??? Com qual objetivo??? Que poder seria esse??? Vamos pensar nessas questões a partir de agora.
Como eles receberiam? Cristo diz que eles receberiam poder quando descesse sobre eles o Seu Espírito. Eles não teriam nenhum controle sobre essa situação. Tudo dependeria apenas do Espírito. O poder viria do alto.
A única coisa que eles teriam que fazer era permanecer unidos e esperar a promessa que o próprio Jesus lhes tinha feito. Cristo havia dito que eles seriam batizados com o Espírito Santo em breve.
Vamos consultar novamente o Houaiss para conferir o significado da palavra batismo: prática ritual de lavagem, presente em diversas religiões, com finalidade de purificação ou iniciação; ablução.
Então, o que Cristo estava dizendo é que eles participariam de um ritual de lavagem com a finalidade de iniciá-los na grande missão de evangelização do mundo. Estava prestes a iniciar o período da graça e o ministério do Espírito.
Porque eles receberiam??? Teriam eles algum mérito nisso??? Por acaso, seriam eles melhores que as outras pessoas??? A resposta a essas perguntas é não. O único motivo pelo qual eles receberiam poder era a “graça de Deus”. Cristo já tinha afirmado antes: “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e dêem fruto e que esse fruto não se perca.” (Jo 15.16).
Eles não receberiam poder porque oraram ou jejuaram, nem porque eram mais santos ou mais espirituais que outras pessoas. Receberiam porque esta era a vontade soberana de Deus, para que se cumprisse o que foi profetizado pelo profeta Joel: O SENHOR diz ao seu povo: “Depois disso, eu derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas: os filhos e as filhas de vocês anunciarão a minha mensagem; os velhos sonharão, e os moços terão visões. Até sobre os escravos e as escravas eu derramarei o meu Espírito naqueles dias.” (Joel 2.28-29).
Com qual o objetivo??? Para testemunhar que Cristo é o caminho, a verdade e a vida e ninguém irá ao Pai se não for por Ele. Ele é o pão e a água da vida. É a luz do mundo. É o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Nele nos movemos, vivemos e existimos. É a única esperança para um mundo caído e prestes a ser destruído sob o poder da ira de Deus. Ele é a nossa paz. Foi Ele quem derrubou a parede de separação entre os povos e uniu todos em só corpo, um só Espírito, uma só esperança, uma só fé e um só batismo.
Alguns segmentos cristãos interpretaram de modo diferente a finalidade desse poder. Várias associações foram feitas: manifestações espirituais, legalismo, misticismo, etc.
Que poder seria esse??? Poder para ser uma testemunha fidedigna. De testemunha falsa o mundo está cheio. Poder para destruir fortalezas, vãs filosofias e todo orgulho humano que se levante contra o conhecimento de Deus, a fim de levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo. Poder para o arrependimento.
Poder que nos faz capaz de amar, perdoar, ser manso, humilde, bondoso e benigno. Poder para vencer o adultério, a pornografia, a violência do dia-a-dia, o stress do trânsito, o consumismo e outras dificuldades do mundo pós-moderno. Poder para exercer os dons ministeriais que o Espírito nos presenteou para edificação do corpo de Cristo como profeta, pastor, evangelista, mestre, etc. Poder para exercer dons espirituais, de acordo com a vontade do Espírito de se manifestar.
O Novo Testamento na Linguagem de Hoje traduziu bem o que o apóstolo Paulo tinha em mente quando escreveu aos romanos:
“Portanto, usemos os nossos diferentes dons de acordo com a graça que Deus nos deu. Se o dom que recebemos é o de anunciar a mensagem de Deus, façamos isso de acordo com a fé que temos. Se é o dom de servir, então devemos servir; se é o de ensinar, então ensinemos; se é o dom de animar os outros, então animemos. Quem reparte com os outros o que tem, que faça isso com generosidade. Quem tem autoridade, que use a sua autoridade com todo o cuidado. Quem ajuda os outros, que ajude com alegria.” (Rm 12. 6-8).
Esse poder não foi dado somente aos apóstolos, mas a todos nós que cremos em Cristo. É por isso que a Bíblia exige de nós que sejamos uma nova criatura e vivamos de modo digno, de acordo com o chamado que recebemos.
Viva a vida cristã!!! Deus seja louvado!!!
A nossa alegria é saber que esse poder vem do alto e não de nós. É resultado da graça de Deus em nossas vidas e não dos nossos esforços.
Confiemos nessa maravilhosa graça para sermos alcançados pelas misericórdias do Eterno e glorificarmos a Deus em nossas vidas!!! Com certeza, essa é a vontade Dele para nós.
Até a próxima!!!
Deus o abençoe!!!
Membro do Ministérios Justificação pela Fé, amigo fiel e apaixonado pela Teologia Reformada. Membro, líder de pequeno grupo e professor da EBD da Igreja Presbiteriana do Calvário de Sorocaba/SP.