127 Horas e A Mortificação do Pecado

Muito se tem falado acerca do filme indicado ao oscar do diretor Danny Boyle, chamado 127 horas [2010], o qual foi baseado na real história de um aventureiro, chamado Aron Ralston [James Franco], que foi forçado a amputar seu braço depois de uma pedra tê-lo prendido no Canyon Bluejonh. A maioria dos comentários que eu li e ouvi se referia à “cena” . A cena que eu estou me referindo é obviamente a cena que descreve Aron cortando seu próprio braço. Há muitos relatos de pessoas que vomitaram, passaram mal (eu conheçi um cara que passou mal); os cinemas colocaram sinais alertando pessoas sobre a natureza da “cena” – Eu assisti o filme duas vezes e ainda não fui capaz de assisti-la completamente.

Tudo o que tenho a dizer, meus pensamentos sobre o filme, tem se focalizado nessa cena, então não vou aprofundar no quanto eu gostei e apreciei o filme. Na minha opinião, 127 horas foi o melhor filme de 2010 – seguido de A Rede social . A direção de Boyle nesse filme foi maravilhosa. Para ter uma história onde o ator principal está completamente isolado na maior parte do filme e dizer que isso é uma forma intrigante, empolgante, emocionante e comemorativa, era o feito que muitos diretores (e atores no que diz respeito ao assunto) evitariam. Entretanto, essa foi a principal razão de Boyle querer contar a história, por causa do desafio apresentado.

127 Horas é um filme que repercute com qualquer pessoa que tenha pulso, pois o tema de amor e comunidade são fundamentais para a história. Wesley Hill escreveu um excelente artigo no site Ransom Fellowship, lidando com esses temas, mas eu quero focar em outro aspecto desse filme.

Aron Ralston é um auto proclamado, “Grande, firme, herói que pode fazer tudo sozinho”. No começo do filme nós temos cenas momentâneas de pessoas juntas, mas Ralston está procurarando isolamento. Ele deixa seu telefone na caixa postal, passa por um grupo de ciclistas, e quando entra no Bluejohn, grita: “Apenas eu, minha música, e a noite, adoro isso!” Ele é um solitário narcisista que acha que não precisa de mais ninguém.

É interessante que Raslton se depara com duas outras aventureiras, que estavam perdidas, e ironicamente declara: “Vocês estão perdidas, eu sou um guia, eu sou bom.” Ele está essencialmente dizendo aquelas àquelas alpinistas, ‘Vocês precisam da ajuda de outra pessoa’. Na verdade, Ralston está perdido, e ele é quem precisa da ajuda de outra pessoa, mas ele não percebe que seu modus operandi contradiz completamente o que ele declara para elas. Ele está preso ao seu ídolo de independência.

Nós fabricamos ídolos a partir de qualquer coisa. Conforme João Calvino disse uma vez:’ Nossos corações são fábricas de ídolos’,c ontinuando a produzir mais deles a cada dia. O ídolo de independência de Ralston vai de encontro ao fato de nós termos sido criados à imagem do Deus Triuno. Nosso Pai Celestial, no entanto, graciosamente revela nossos ídolos, nos fazendo entrar em guerra contra eles.

Deus fala conosco através da criação (revelação geral), e o personagem Ralston aprecia muito a criação – sentindo as pedras com suas mãos e fotografando a criação – mas não percebe o Criador por detrás disso. Não viu até Deus ter usado sua criação para prender Ralston a uma parede e assim ele finalmente acordou. Em suma, Deus está dizendo, “Você quer isolamento? Você quer auto-suficiência? Eu o darei a você.” Em última análise, Deus deu a Ralston exatamente o que ele queria – isolamento e independência. Uma das coisas mais assustadoras que Deus pode fazer é dar o que queremos. Ralston fez de sua independência, uma coisa essencial, então Deus concedeu isso a ele afim de mostrar lhe sua necessidade. (Para mais informações, veja Romanos 1:18-32).

Em um ponto crucial do filme, Ralston reflete sobre sua realidade. Ele percebe a eterna sabedoria divina e sua rebelião contra Ele.

Você sabe, estive pensando. Tudo está…apenas se encaixando. Sou eu. Eu escolhi isso. Eu escolhi tudo isso. Essa rocha…essa rocha tem esperado por mim durante toda minha vida. Por toda sua vida, desde que era um pequeno meteorito há um milhão, bilhão de anos. No espaço.Tem esperado esse momento. Aqui mesmo. Eu tenho andado em direção a isso durante toda minha vida. Do minuto que eu nasci, cada fôlego que eu tenho, todo acontencimento tem me levado a essa fenda.

Inicialmente ele lutou contra a rocha, gritando, ” Isso é loucura” ; Ele amaldiçoou a rocha, bateu na rocha, clamou por liberdade, ele ainda tentou desgastá-la, apenas para perceber que suas ações na verdade fizeram com que a rocha se firmasse mais seu braço. Toda sua independência estava lutando com a rocha, e a rocha estava lutando com a sua independência. No final, a rocha venceu.

O que sustentava Ralston no canyon eram as suas lembranças; lembranças com outras pessoas. Ele refletia os momentos com seus amigos e família durante aquelas excruciantes 127 horas. Assim ele deixa seu último desejo e testamento em sua vídeo câmera, ele diz:

Mãe, Pai, eu realmente amo vocês. Eu gostaria de aproveitar esse momento para dizer que o tempo que passamos juntos foi incrível. Eu não valorizei vocês da forma que deveria. Mãe, eu te amo. Eu gostaria de ter retornado todas suas ligações sempre. Eu realmente vivi nesse último ano. Eu gostaria de ter aprendido algumas lições de forma mais astuta, mais rápida do que aprendi. Eu amo vocês. Eu sempre estarei com vocês.

Nesse desejo – amar e ser amado – é que ele destrói seu ídolo. Quando ele imagina uma falsa conversa consigo mesmo, ele faz a seguinte declaração a ele mesmo, “Seu supremo egoísmo é nosso ganho”. Ele tem sido uma pessoa egoísta que não amou os outros como ele deveria ter amado. No final, ele tem uma visão de outra vida, uma vida com uma família que o possibilita a doar o amor que ele tinha guardado para si mesmo.

Enquanto a cena da amputação é uma das mais realistas da história cinematográfica, ela não foi feita por motivos sensacionalistas. A natureza gráfica dessa cena não apenas emocionalmente nos leva para dentro do filme, de algum modo, a sentir o que Ralston sentia, mas também revela que ele entendeu o erro de seus caminhos. O que ele mais amou foi ele mesmo. Ao cortar seu braço, ele estava cortando seu pecado pela raiz, fazendo dele um dependente pelo resto de sua vida.

Quando ele finalmente cortou seu braço, ele olha para cima e diz: “Obrigado”. De certo modo, percebendo que não foi por suas forças que fizera aquilo, antes, foi pelo amor de Deus, o qual o capacitou a deixar seu ídolo. Quando Aron sai do canyon e grita: “Me ajude”, é interessante que se vê três pessoas vindo em sua ajuda para socorrê-lo. Eu não estou dizendo que isso era a intenção dos diretores, mas isso lembra a Trindade, e o curioso foi que o Pai e Filho estavam entre os três presentes.

Isso me lembra que a verdadeira mortificação dos nossos pecados não é um trabalho do homem, mas de Deus. O Pai derrama seu amor em nós, o Filho que consumou a perfeita obra e o Espírito que nos capacita a matar o pecado em nossa vida. Eu não tenho certeza se Aron Ralton é um cristão, mas essa profunda dificuldade em sua vida mostra algumas verdades das escrituras.

Enquanto eu advirto muitos espectadores acerca da cena a qual Aron amputa seu braço, eu diria que esse é um filme que comunica profundas verdades teológicas. Isso nos mostra que o amor e o propósito da comunhão com Deus tomou lugar em nossas vidas, a absoluta depedência que nós temos Dele, a necessidade de mortificar nossos ídolos para sobreviver e os meios nos quais devemos ser mais piedodos em nossas vidas. Esse filme, na minha opinião, será eterno, e ainda será discutido por muitos anos.


Traduzido por Henderson Fonteneles | original aqui

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