Herman Bavinck (1854-1921)
Mais do que Hodge, e da mesma forma que Calvino, Bavinck enfatiza a natureza “em Cristo” da santificação. Ele quer que vejamos que não somos “santificados pelo que realizamos por nós mesmos”. Antes, a santificação evangélica “consiste na realidade de que, em Cristo, Deus também nos garante, junto com justiça, plena santificação, e não apenas atribui, mas também nos concede pela obra regeneradora e renovadora do Espírito Santo até que nós tenhamos sido completamente conformados à imagem de seu Filho” (Reformed Dogmatics, 4.248). Bavinck continua ao dizer que a doutrina romana da “justiça imputada” não está incorreta como tal. Os Crentes “realmente obtém a justiça de Cristo por imputação”. O problema é que Roma faz dessa justiça, um motivo para o perdão. A nós é dado o dom da justiça( por Cristo “vindo habitar em nós pelo Espírito Santo e nos renovar a Sua imagem”), mas nós somos declarados justos somente pelo dom da justiça imputada (4.249).
Santificação, para Bavinck, é antes de tudo o que Deus faz em e por nós. Mas isso não é tudo que devemos dizer acerca da santificação:
É admitido, em primeiro lugar que [santificação] é uma obra e dom de Deus(Fp 1:5; 1Tess 5:23); um processo no qual se inicia na regeneração. Embora essa obra seja estabelecida nos homens, ela alcança, em segundo lugar, um sentido ativo, e as próprias pessoas são chamadas e capacitadas a santificar a si mesmas e a devotarem completamente suas vidas a Deus.(Rom. 12:1; 2 Cor. 7:1; 1 Tess. 4:3; Heb. 12:14; e assim por diante). (4.253)
Enquanto Bavinck pode estar mais decidido a enfatizar a natureza passiva da santificação do que usar a linguagem de cooperação, no final ele ataca os mesmos tópicos que nós vimos em Calvino, Turrentini, A Brakel, e Hodge. Bavinck não vê conflito “entre essa atividade de Deus realizada em graça e a busca da santificação pelos cristãos” (4.254). Ele exorta que os cristãos perdem o foco quando não conseguem conciliar esses dois significados. Santificação é um dom de Deus, e nós somos ativos nesse dom.
Louis Berkhof (1873-1857)
Nós percebemos em Berkhof a mesma tendência de se resguardar contra qualquer idéia de auto-ajuda por um lado e a inatividade humana por outro. [Santificação] é uma obra sobrenatural de Deus. Alguns tem a idéia equivocada de que santificação consiste apenas no alongamento da nova vida, inserida na alma pela regeneração, apresentando motivos convincentes para o desejo. Mas isso não é verdade. Isso consiste fundamentalmente e principalmente em uma divina operação na alma, por meio da qual, uma santa disposição é originada na regeneração e fortalecida e as boas obras são aperfeiçoadas. (Systematic Theology, 532).
Em outras palavras, santificação é essencialmente uma obra de Deus. Embora seja também “uma obra no qual crentes cooperam.” Quando é dito que o homem participa na obra da santificação, isso não significa que o homem seja um agente independente nesse esforço, de forma que parte seria trabalho de Deus e parte do homem, mas significa apenas que Deus efetua a obra através do homem como um ser racional, requerendo dele uma cooperação piedosa e inteligente com o Espírito. (534)
Conclusão
Então o que vemos nessa breve análise de teólogos reformados. Para começar, não vimos exatamente as palavras monergismo ou sinergismo aplicada à santificação. Em segundo lugar, percebemos que, dadas certas restrições, cada termo pode ser usado com mérito.
“Monergismo” pode funcionar porque santificação é um dom de Deus, Sua obra sobrenatural atuando em nós.
“Sinergismo” também pode, pois nós cooperamos com Deus na santificação e ativamente nós esforçamos para crescer em piedade.
Em terceiro lugar, vemos nessa análise reformada a necessidade de sermos cautelosos com nossas palavras. Por exemplo, “passivo” pode descrever nosso papel na santificação, mas somente se nós também dissermos que há um sentido no qual somos ativos. Do mesmo modo, nós podemos usar a linguagem da cooperação desde que entendamos que santificação não depende fundamentalmente de nós. E se tudo isso parece confuso, você pode simplesmete dizer: nós desenvolvemos nossa santificação assim como Deus trabalha em nós (Fp 2:12-13). Essa são duas verdades que devemos proteger: o dom de Deus na santificação e a atividade do homem. Nós buscamos o dom, é como John Webster coloca. Eu atuo o milagre, é uma frase de Piper. Ambos estão dizendo a mesma coisa. Deus nos santifica e nós também santificamos a nós mesmos. Com certas certas restrições e definições, eu creio que Calvino, Turrentini, A Brakel, Hodge, Bavinck, e Berkhof concordariam plenamente.
Fonte original: http://thegospelcoalition.org/blogs/kevindeyoung/2011/09/21/is-sanctification-monergistic-or-synergistic-a-reformed-survey/
Tradução: Henderson Fonteneles
Administrador do Justificação pela Fé.