1) Esses são os pontos em torno dos quais a justificação e a santificação concordam entre si.
a) Ambas procedem originalmente da graça gratuita de Deus. É somente por motivo de seu dom que os crentes chegam a ser justificados e santificados.
b) Ambas fazem parte da grandiosa obra de salvação que Jesus Cristo, dentro do pacto eterno, resolveu realizar em favor do seu povo. Cristo é a fonte da vida, de onde fluem tanto o perdão dos pecados quanto a santificação. A raiz de cada uma dessas realidades é Jesus Cristo.
c) Ambas podem ser encontradas na mesmas pessoas. Aqueles que são justificados, também são santificados; aqueles que são santificados sempre são justificados. Deus uniu essas duas realidades espirituais e elas não podem ser separadas uma da outra.
d) Ambas começam ao mesmo tempo. No começo em que uma pessoa começa a ser um crente justificado, também começa a ser um crente santificado. Talvez não perceba, mas isso é um fato.
e) Ambas são igualmente necessárias à salvação. Ninguém jamais chegou ao céu sem um coração renovado acompanhado pelo perdão, sem a graça do Espírito Santo acompanhada pelo sangue de Cristo, sem estar devidamente preparado para a glória eterna e ao, mesmo tempo, sendo possuidor do título que lhe dá direito a ela. Uma coisa é tão necessária quanto a outra.
2) Agora, vamos reverter o quadro, verificando no que essas duas verdades diferem:
a) A justificação é quando Deus declara que um homem é justo, com base nos méritos de outro homem, a saber, o senhor Jesus Cristo. A santificação é o desenvolver progressivo da justiça no interior do homem, mesmo que ocorra muito lentamente.
b) A retidão que recebemos, mediante a nossa justificação, não é nossa própria, mas é perfeita e eterna retidão do nosso grande Mediador, Jesus Cristo, imputada a nós e tornada nossa somente através da fé. Porém, a retidão que temos, por meio da santificação, é a nossa própria retidão, concedida, inerente e operada em nós pelo Espírito Santo, embora misturada com grande debilidade e imperfeição.
c) Na justificação, as nossas próprias obras não desempenham qualquer papel, e a simples confiança em Cristo é a única coisa que se faz mister. Na santificação, as nossas próprias obras revestem-se de vasta importância; Deus ordena que lutemos, vigiemos, creiamos, nos esforcemos e labutemos.
d) A justificação é uma obra terminada e completa, e um crente está perfeitamente justificado a partir do instante que crê. No entanto, a santificação é uma obra imperfeita, comparativamente falando, jamais será aperfeiçoada enquanto não chegarmos ao céu.
e) A justificação não admite qualquer desenvolvimento ou crescimento; um homem está tão justificado na hora em que vem a Cristo, mediante a fé, como será por toda a eternidade. A santificação, contudo, tem natureza eminentemente progressiva, admitindo um crescimento e uma ampliação contínuos, enquanto o crente estiver vivo.
f) A justificação tem uma referência especial à nossa pessoa, à nossa posição diante de Deus e à nossa libertação da culpa. A santificação, porém, está especialmente relacionada à nossa natureza e à renovação moral do nosso coração.
g) A justificação nos confere o direito de ir para o céu, bem como a ousadia de ali ingressar. A santificação nos torna adequados para habitar no céu, capacitando-nos a usufruir dele quando ali estivermos habitando.
h) A justificação é um ato de Deus a nosso respeito, não podendo ser facilmente percebido por outras pessoas. A santificação é uma obra de Deus dentro de nós, não podendo ser ocultada em suas manifestações externas aos olhos dos homens.
Destaco essas distinções diante da atenção de todos os meus leitores, rogando-lhes que ponderem detidamente sobre elas. Estou persuadido de que uma das grandes causas das trevas e dos sentimentos de desconforto de muitas pessoas bem intencionadas, nessa questão da religião cristã, é o hábito que elas têm de confundir, em vez de distinguir a justificação da santificação. Jamais poderá ser salientado em demasia, diante de nossa mente, que essas são duas realidades distintas. Não há dúvida de que elas não podem ser separadas uma da outra. Aquele que participa de uma, participa também da outra. Entretanto, jamais deveriam ser confundidas entre si, e a distinção que há entre elas jamais deveria ser esquecida.
Referências:
A santidade: Sem a qual ninguém verá o Senhor – JC Ryle páginas 60-62.
Administrador do Justificação pela Fé.