Francisco Turretini(1623-87)
Turretini emprega santificação como um termo teológico “usado estritamente para uma real e interna renovação do homem.” Nessa renovação, nós somos tanto receptores da graça de Deus quanto atores ativos dela.”[Santificação] segue a justificação e se inicia pela regeneração e é promovida pelo exercício da santidade e das boas obras, até que uma seja consumada na outra pela glória. Nesse sentido, ela é passiva, na medida em que é operada por Deus em nós, e em outro sentido é ativa, na medida em que deve ser feito por nós. Deus realiza seu trabalho em nós e através de nós.(Institutes of Elenctic Theology 2.17.1)
Quando se trata da graça de Deus na regeneração, Turrentini se opõe a “todos os sinergistas”. Ele tem em mente os Socinianos, Remonstrantes, Pelagianos, Semipelagianos, e especialmente os Católicos Romanos, que anatematizaram: “Eles dizem que o livre arbítrio do homem, movido e estimulado por Deus, coopera de alguma forma” no chamado eficaz ( Concílio de Trento). Turrentini foi feliz em ser o tipo de monergista que foi contra Trento. Entretanto, ele faz um esclarecimento :
Esse assunto não diz respeito ao segundo estágio da conversão, em que é certo que o homem não é meramente passivo, mas coopera com Deus(ou melhor, opera em submissão a Ele). Na verdade, ele realmente acredita e se converte a Deus; se move ao exercício da nova vida. Antes, essa questão diz respeito ao primeiro momento quando ele é convertido e recebe nova vida na regeneração. Nós afirmamos que ele é meramente passivo nesse caso, como um sujeito que recebe e não como um princípio ativo(2.15.5).
Dada essa ressalva, é difícil pensar que Turrentini se sentisse confortável em dizer que santificação é monergística, embora ele certamente acreditasse que a santidade é trabalhada no crente por Deus.
Wilhelmus A Brakel (1635-1711)
Semelhantemente a Turrentini e Calvino, A Brakel deixa claro que a santificação é um trabalho de Deus. ” somente Deus é sua causa” ele escreve: “Assim como o homem não pode contribuir para sua regeneração, fé e justificação, da mesma forma não pode contribuir para sua santificação”(The Christian’s Reasonable Service, 3.4). Isso pode soar como se fôssemos completamente passivos na santidade, mas não é o que A Brakel quer dizer:
Crentes odeiam o pecado, amam a Deus, e são obedientes, e fazem boas obras.Entretanto, eles não fazem isso por conta própria nem independemente de Deus; antes, o Espírito Santo, tendo infundido vida neles na regeneração, Ele mantém essa vida pela Sua contínua influência, despertando , ativando e fazendo com que ela funcione em harmonia com sua natureza espiritual.(3.4)
Nós não contribuímos em nada para santificação, e o crescimento em piedade é um dom de Deus. No entanto, nós devemos ser ativos no exercício desse dom. A Brakel vai ainda além quando diz: “Homem, sendo assim movido pela influência do Espírito de Deus, age, santifica a si mesmo, se compromete na atividade a qual sua nova natureza deseja e na direção que ela está disposta, e faz o que ele sabe que é seu dever”(3.4, grifo do autor). É por isso que A Brakel depois exorta seus leitores a “fazer um diligente esforço para se purificar de toda contaminação da carne e da mente, aperfeiçoando sua santificação no temor a Deus. Permita me despertá-lo para a obra santa; incline seu ouvido e permita que essas exortações endereçadas a você entrem seu coração”(3.24). Então em um certo sentido(no nível da causa e da origem) nós não contribuímos em nada para santificação e em outro sentido(no nível da atividade e esforço) nós santificamos a nós mesmos.
Charles Hodge (1797-1878)
Nós achamos os mesmos temas – santificação como um dom e santificação como uma ativa cooperação – em um grande sistematizador de Princeton. Hodge enfatiza que a santificação é “sobrenatural” e que as santas virtudes na vida de um crente não podem “ser produzidas pelo poder da sua vontade”, ou por todos os recursos do homem, embora possam ser prolongadas no seu exercício. Elas são presentes de Deus, frutos do Espírito”(Systematic Theology, 3.215).
Entretanto, Hodge é rapido em acrescentar que essa obra sobrenatural da santificação não exclui “a cooperação como causa secundária” Ele explica:
Quando Cristo abriu os olhos dos cegos, nenhuma causa secundária se interpôs entre sua vontade e o efeito. Mas o homens desenvolvem sua própria salvação, enquanto Deus trabalha neles o querer e o fazer, de acordo com Sua própria vontade. No trabalho da regeneração, a alma é passiva. Ela não pode cooperar. Mas na conversão, o arrependimento, a fé, e o crescimento em graça, todos seus poderes são chamados a entrar em exercício. Quando, porém, os efeitos produzidos superam a eficiência de nossa natureza caída, isso se deve a atividade do Espírito, e a santificação não deixa de ser sobrenatural, ou uma obra da graça, porque a alma é ativa e coopera no processo (3.215).
Há muitas idéias importantes no resumo do Hodge. Primeiro, ele afirma que a santificação é uma obra da graça sobrenatural. Isso não é algo que vem de nós ou poderia ser efetuado por nós. Segundo, ele sugere que a alma é passiva (monergismo) na regeneração, mas não no restante de nossa vida espiritual (nota:”conversão” nesse trecho significa seguir Cristo, não se refere ao novo nascimento). Terceiro, ele não hesita em usar a linguagem da cooperação. Nós somos ativos no processo de santificação com Cristo enquanto Ele trabalha em nós.
Fonte original: http://thegospelcoalition.org/blogs/kevindeyoung/2011/09/21/is-sanctification-monergistic-or-synergistic-a-reformed-survey/
Tradução: Henderson Fonteneles
Administrador do Justificação pela Fé.