“…e de contínuo orava a Deus…” Atos 10:2
O evangelista Mateus nos conta no capítulo 16 um episódio interessante na história de Jesus.
Ao chegar na cidade de Cesaréia, ele fez uma pergunta bem direta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” Mt 16:13. Pedro respondeu com total convicção: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Mt 16:16. Diante de tão pronta resposta, Jesus afirmou: “Eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” Mt 16:19.
Pedro usou essa chave em três momentos distintos: no dia de pentecostes (At 2.37-39), em Samaria (At 8:17) e por último na casa de Cornélio (At 10).
Na narrativa de Lucas(At 10.2) nos chama a atenção imediatamente, um costume dos primeiros cristãos iniciado pela porta aberta até Deus pelas chaves dadas por Cristo: a oração e a comunhão diária com Deus. Como oravam os primeiros cristãos!!!
O hábito da oração, tanto de Pedro, como de Cornélio, tinham origem na tradição judaica do Antigo Testamento. Era o mesmo costume de Daniel e outros heróis da fé.
Provavelmente, os cristãos oravam um pouco mais que a maioria dos judeus, pois andaram, jejuaram, cantaram e aprenderam com o maior exemplo de oração e comunhão que o mundo já viu: Jesus Cristo.
Da comunhão com Deus vinha a coragem para enfrentar os desafios que surgiam; resiliência; amor entre eles; foco na vontade do Todo-Poderoso e a quebra de paradigmas e tabus criados para alimentar ódios e inimizades.
O resultado das orações de Pedro e Cornélio foi a pronta obediência. Nenhum dos dois hesitaram em cumprir a ordem Divina. Essa atitude é o resultado de uma fé sincera em Jesus Cristo.
Vamos refletir um pouco mais… Se a oração foi tão eficaz com Jesus Cristo, os apóstolos, a igreja primitiva e Cornélio, porque normalmente não vemos essa eficácia conosco??? O que será que mudou???
Sejamos sinceros, o que mudou foi o nosso prazer em orar. Nossa perseverança em oração. Nosso foco, nossas prioridades e outras coisinhas mais.
Temos muito mais comunhão com o celular, a televisão, a internet, o facebook, o twitter e outras maravilhas tecnológicas do que com Deus.
Fazemos vigílias em frente à TV, vibramos com as vitórias e choramos com as derrotas de nossos times de coração, outros com seus programas preferidos, suas novelas, filmes e séries favoritas, mas nos entediamos de joelhos.
Sabemos muito sobre nossos cantores, atores, escritores e filósofos preferidos, mas conhecemos pouco sobre Deus e a sua Palavra.
A relação com Deus é semelhante às nossas relações humanas, principalmente no casamento. Por isso, a Igreja é considerada a noiva de Cristo.
Normalmente, estamos prontos para falar e se irar, porém temos uma dificuldade enorme para ouvir.
Vivemos protegidos por múltiplas máscaras e guardamos nossos segredinhos à sete chaves. Não somos totalmente sinceros.
Somos cheios de pudor e vergonha. Não temos uma comunhão perfeita com as pessoas.
Muitos desistem dos seus relacionamentos e se divorciam, em busca da felicidade sozinhos ou com outros parceiros.
Outros são infiéis. Não resistem às propostas sedutoras que lhes são oferecidas.
No início é tudo alegria e empolgação com as novas descobertas e os cônjuges querem a presença do parceiro constantemente.
Com o passar do tempo eles se acostumam um com o outro e a paixão esfria.
Muito parecido com a nossa relação com o Eterno você não acha???
Quantos se divorciam de Deus no meio da caminhada… Outros se acostumam com a religiosidade dos domingos e se distanciam do Criador. Perdem o primeiro amor.
Por não sermos totalmente sinceros nem conosco mesmo, quantas vezes fugimos da oração ou pior, ao falarmos com Deus, não expressamos exatamente o que está no coração.
Somos egoístas em nossas orações, como diz Tiago: ”Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” Tg 4:3
Se você for um pouquinho parecido comigo, quando vai orar lembra-se de tudo que tinha esquecido antes. Até aquela questão da prova que você errou anos atrás, naquele momento aparece do nada.
Porque será??? Porque não existe no cosmos batalha maior do que a oração.
O pastor Jhon Piper tem uma boa dica de como orarmos melhor. Segundo ele uma forma de evitar que sua mente fique vagando por aí é orar as Escrituras. Ler e orar um salmo, por exemplo. Na verdade, é uma dica bem eficaz.
Além da oração, os antigos conseguiam meditar nas Escrituras. Assim, a oração tornava-se em diálogo com o Eterno. Como afirmou Davi: “Oh! quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.” Sl 119:97
Hoje em dia não sabemos o que é meditação. Achamos que isso pertence aos monges ou às religiões e seitas orientais.
Na correria diária não temos tempo para nada. Nem pensamos mais. Fazemos tudo no automático. Não conseguimos ouvir Deus.
Assim, só nos lembramos de Deus na igreja ou quando as coisas vão mal. Ele se transforma num mero detalhe na nossa vida, e, as nossas orações tornam-se inócuas.
Mas, ainda há esperança para nós que vivemos o estresse do mundo pós-moderno. Ainda é possível ser amigo íntimo do Todo-Poderoso!
O convite encantador de Jesus ainda está de pé, nos chamando para andarmos com Ele:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” Mt 11:28-30
Deixo as palavras do Eterno, mostrando quais são as suas intenções para conosco. Acredite, Ele cumpre o que fala:
“…Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.
Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei.
E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.
E serei achado de vós, diz o Senhor…” Jr 29:11-14a
Pense nisso!!!
Até a próxima!!!
Deus o abençoe!!!
Elias Silvio
Notas
- J. Williams, David. Atos, Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. São Paulo: Editora Vida, 1985.
- H. Gundry Robert. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1978.
- Craig S. Keener. Comentário Bíblico Atos, Novo Testamento. São Paulo: Editora Atos, 2004.
- Stott, John R. W. A mensagem de Atos. Até os confins da terra. São Paulo: ABU Editora S /C, 1990.
- Kistemaker, Simon J. Comentário do Novo Testamento – Exposição de Atos dos Apóstolos. Editora Cultura Cristã, 2003.
Membro do Ministérios Justificação pela Fé, amigo fiel e apaixonado pela Teologia Reformada. Membro, líder de pequeno grupo e professor da EBD da Igreja Presbiteriana do Calvário de Sorocaba/SP.