Certa noite Jesus fez uma afirmação intrigante: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. E um príncipe fez uma pergunta mais intrigante ainda: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Como pode ser isso?” (João 3:3,4;9). Será que também passamos por essa experiência? Como podemos ter certeza do novo nascimento em nós?
O apóstolo João em sua primeira epístola usa a expressão “nascido de Deus” seis vezes, para enfatizar a conhecida doutrina da regeneração e apresentar as características dos salvos em Cristo. A regeneração ou novo nascimento é uma obra exclusivamente de Deus. Não há a mínima participação humana nesse processo. É considerada uma das bênçãos da salvação. João ao iniciar o seu evangelho nos apresenta Deus como autor dessa transformação: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (João 1:13). O profeta Ezequiel também fala sobre essa transformação: “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ez. 36:26-27).
Lewis Sperry Chafer diz que “o novo nascimento não é um mero remédio para as falhas humanas. É uma criação pela geração divina, uma constituição de filhos inerentes, inatos e legítimos de Deus.” É a passagem da morte para a vida. O início da vida eterna. Todos nós estávamos “mortos em ofensas e pecados e fomos vivificados por Cristo.” (Ef. 2:1). O apostolo Paulo completa essa frase lembrando que a “salvação é pela graça”, isto é, não participamos dela, nem a merecemos. Depois de termos visto que a regeneração é o início da salvação, vamos analisar as características dos nascidos de Deus.
Praticante da justiça
“Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele.” (I João 2:29)
O nascido de Deus é justo, porque Deus é justo. Sua balança não tem dois pesos e duas medidas. Ele não faz acepção de pessoas, nem favorece os ricos em detrimentos dos pobres. (Tg 2.1-9). O seu falar é: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna. (Mt 5:37).
É liberto do pecado
“Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (I João 3:9)
O salvo não é aquele que não peca, mas sim, aquele que confessa e deixa os seus pecados. Não é exigida uma perfeição do crente, até porque João já tinha afirmado que: “se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.” (I João 1:8). O salvo é aquele que não permite o pecado contínuo na sua vida. O Espírito que habita nele é sensível e tem ciúmes, incomodando-o para que busque a sua santificação, libertando-o do pecado que impede sua comunhão com o Pai.
Ama o próximo
“Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.” (I João 4:7)
O amor é a marca distintiva do cristão. Se ele é nova criatura, então ama, porque Deus é amor. O verdadeiro conhecimento de Deus é expresso pelo amor ao próximo. Por isso o apóstolo Tiago diz que “a religião pura e imaculada para com Deus é visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações…” (Tg 1:27). Como afirma o apóstolo João, o cristão é aquele que dá a vida pelos seus irmãos. Preste atenção: ele não se mata, mas, ao contrário, ele dá a vida pelos seus irmãos. É uma oferta voluntária e pacífica. Ele está disposto a chorar com os que choram; sofrer com os que sofrem; alegrar-se com os que se alegram, enfim ele compartilha das alegrias e tribulações dos seus irmãos. O amor de Cristo o constrange de tal forma que ele é impulsionado a ajudar o próximo de todas as formas. Ele não é um ser alienado, mas importa-se com o mundo ao seu redor. Preocupa-se com as necessidades básicas dos seus irmãos. Não vive somente de palavras, mas principalmente da prática.
Tem fé em Cristo
“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido.” (I João 5:1)
A primeira obra de Deus através do novo nascimento é a fé. Aqui João afirma que o nascido de Deus tem plena confiança e certeza que de Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Ele é o único intermediário entre Deus e os homens. Não há espaço para idolatria no coração do regenerado. Ele ama a Deus sobre todas as coisas e não serve a nenhum outro deus. Não se deixa enganar pelos anticristos e falsos profetas. O mundo tenta distraí-lo e seduzi-lo com suas ofertas tentadoras, com a soberba da vida, as vãs filosofias, as paixões carnais, enfim, com todas as suas armas, porém o cristão tem uma arma mais poderosa: a fé em Cristo. A fé em Cristo guarda-o da apostasia e da incerteza pela solicitude da vida. Faz com que o cristão acredite que, se Deus cuida dos passarinhos e dos lírios do campo, quanto mais dele.
Protegido do poder de satanás
“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não lhe toca.” (I João 5:18)
O nascido de novo rejeita todo folclore e misticismo em torno dos seres malignos. Não perde tempo com água benta, folha de arruda e outros acessórios supersticiosos. Rejeita as fábulas ensinadas nos livros de batalha espiritual, como unções de todo tipo, repreensão de demônios o tempo todo, suspensão de alguns tipos de alimentos e outras bobagens que existem por aí. O maligno não lhe toca porque ele é filho de Deus, propriedade particular do Altíssimo e está sob a proteção Dele. Se o salvo for atingido por um “espinho na carne”, isso será para a sua edificação e não porque ele está a mercê do inimigo. O apóstolo Paulo cita diversas situações ruins, porém não atribui ao maligno a culpa pelos males que enfrentou: açoites; prisões; perigo de morte; quarentenas de açoites; apedrejado; naufrágio; noite e dia no abismo; perigos em viagens, de rios, de salteadores, dos judeus, dos gentios, na cidade, no deserto, no mar, entre os falsos irmãos; trabalhos e fadiga; vigílias; fome e sede; jejum; frio e nudez (II Cor. 11:23-27). Ufa!!!. Imagine se você passasse por tudo isso??? No entanto, essas adversidades fizeram dele uma pessoa recomendável em todas essas coisas (II Cor. 6:4). Tudo isso o ensinou a estar abatido, ter em abundância; a lidar com a fartura, a fome e sofrer com as necessidades. (Fp 4:12). Paulo aprendeu que podia todas as coisas em Cristo, porque Cristo o fortalecia (Fp 4:13). “Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé.” (I João 5:4).
Enfim vemos que “se alguém está em Cristo, nova criatura é”. Nasce um novo homem que age, pensa e ama como Cristo. Pratica a justiça, porque só é possível viver a justiça verdadeira quem nasceu de novo. Tem uma confiança inabalável no amor e no poder de Deus, a ponto de abandonar o pecado que o separa da plena comunhão com Deus. Busca a paz com todos e a santificação. Foi-lhes dado o poder para vencer o diabo e seus anjos, mediante a fé em Cristo Jesus e a obediência à sua santa palavra. Se você é salvo, lembre-se: Você não está morto. Você tem a vida eterna. Você tem o gene de Deus e, portanto, não se compatibiliza com nada que proceda do diabo ou deste mundo tenebroso. Viva a vida!!! Sorria!!! Alegre-se em Deus!!!
Notas
NOVO TESTAMENTO – Bíblia King James Atualizada – São Paulo – Abba Press, 2007. CHAFER, Lewis S. Teologia Sistemática. São Paulo: HAGNOS, 2003.
A.R.A – Almeida Revista e Atualizada.
Membro do Ministérios Justificação pela Fé, amigo fiel e apaixonado pela Teologia Reformada. Membro, líder de pequeno grupo e professor da EBD da Igreja Presbiteriana do Calvário de Sorocaba/SP.