Uma das consequências disso é a apostasia, desilusão e afastamento de muitas pessoas. As portas das igrejas mais parecem entradas giratórias de instituições bancárias, com bastante gente entrando e saindo. Pessoas confusas a respeito de Deus, se revoltam contra Ele, pelo fato de promessas dos pastores e líderes não terem sido realizadas em suas vidas.
Muitas pessoas vêem Deus apenas como uma máquina de bençãos e pensam que o cristianismo se resume em ir a um templo e levantarem a mão dizendo: “eu recebo”. Por outro lado, a bíblia fala de renúncia: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lucas 9:23), também diz que haverá tribulações: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. (João 16:33) E ainda perseguições: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Timóteo 3:12).
Precisamos, portanto, urgentemente, do real evangelismo bíblico, para mostrar aos homens a verdade acerca do contraste da natureza de seus pecados em relação à santidade de Deus. Então qual seria o evangelismo bíblico, afinal de contas? Para responder a essa pergunta consultemos a palavra na linguagem original: O evangelho deriva da palavra grega euangelion que significa boas novas, e revela o plano de Deus para salvação de muitos, portanto, segundo Atos 3:19: – “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor,” e 2 Cor 7:10 -“Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte”, não há salvação sem arrependimento, e não há arrependimento sem a convicção do pecado: e não há convicção de pecado sem o confronto com a lei de Deus: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.” (Romanos 3:19-20).
O evangelismo deve falar acerca do conhecimento de Deus, para que conheçamos o padrão a que devemos nos comparar. A lei de Deus é o padrão exigido do crente! Ela serve para nos levar a Cristo:”De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.”(Gálatas 3:24), ela nos deixa sem esperança e gera contrição e arrependimento. A lei nos revela o pecado; diz que somos na verdade culpados diante de um Deus santo e justo.
O evangelismo bíblico também deve fazer um alerta acerca da ira e do juízo de Deus conforme está escrito em Hebreus 9:27 – “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” , Atos 17:31- “Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. E Provérbios 11:4 -“De nada aproveitam as riquezas no dia da ira, mas a justiça livra da morte”. Muitas pessoas pensam que no dia do juízo, Deus irá perdoá-las porque Ele é bom, mas a verdade é justamente porque Ele é bom que vai haver justiça. Muitos dizem não terem cometido nenhum delito grave como matar alguém, por exemplo, mas o próprio Jesus disse: Tendes ouvido que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar, estará sujeito a julgamento. Mas eu vos digo que todo aquele que se ira contra seu irmão, estará sujeito a julgamento; e quem chamar a seu irmão: Raca, estará sujeito ao julgamento do sinédrio; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito à geena de fogo (Mateus 5:21-22). A verdade é que Deus julga com base no padrão perfeito Dele.
No entanto, o evangelismo atual tem falhado nessa missão de levar o homem a ver a miséria de seu pecado. A verdade é que a grande parte das pessoas se consideram boas e que irão para céu pelos seus próprios esforços. Mas a bíblia diz o contrário “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Romanos 3:10-12). Então, nossa tarefa em evangelizar é como lançar sementes, mas antes disso devemos preparar bem a terra, ou seja, deixando que lei humilhe o homem para que então ele receba a graça da parte de Deus, com está escrito: “Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.”( Tiago 4:6), e deixar os resultados com Deus, pois somente o Espírito Santo pode convencer uma pessoa do pecado, da justiça e do juízo.
Muitos evangelistas de hoje, cometem o equívoco de começar a abordagem logo com aqueles jargões superficiais conhecidos: “Deus te ama e eu também”, “Deus tem um plano maravilhoso para sua vida”, ou então lançam logo o versículo de João 3:16(“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”) sem antes preparar o terreno conforme eu comentei anteriormente. Isso seria como dizer para uma pessoa que alguém pagou uma multa para você, mas você não sabe que foi multado, ou dar para uma pessoa um remédio sem que ela esteja convencida de sua doença. Precisamos gastar tempo com as pessoas, ajudando-as a verem a doença que é o pecado e quais as consequências, e somente depois disso, devemos falar a eles sobre o remédio que é Jesus Cristo. Não conseguimos ver a poeira da nossa mesa com as cortinas fechadas, precisamos deixar a luz do evangelho entrar para podermos ver a sujeira do nosso pecado.
Para se evangelizar como a bíblia nos adverte, devemos observar na própria escritura, os exemplos: em Marcos 10:17, tem se uma conversa que Jesus teve com um jovem rico: o verso 17 diz: “E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Repare que algum pregador ou evangelista poderia dizer: “somente repita essa oração comigo…(oração de aceitação)” ou “seja um membro da minha igreja”, no entanto, Jesus responde no verso 19: Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Jesus estava dizendo em outras palavras que para entrar no céu, ele tinha que cumprir perfeitamente toda a lei, mas ele sabia também que aquele jovem estava enganado e cego a respeito de sua justiça conforme diz o verso 20: “Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.” Nota-se que aquele jovem não via seu pecado ainda, tudo que ele queria era uma confirmação de Jesus do tipo “ok, você tá indo bem, parabéns”, mas o que Jesus respondeu foi o seguinte: “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me”. O que Jesus mostrou aqui foi a evidência de que aquele rapaz na verdade falhou logo no 1º mandamento: “Não terás outros deuses além de mim”. O dinheiro dele representava algo que ele amava mais que a Deus. No verso seguinte vemos a tristeza ao ser confrontado: “Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades”. Muitos irmãos pensam que Jesus foi rude com esse rapaz, no entanto, como o próprio versículo diz, Jesus o amou.
Outro exemplo dado pelo nosso Senhor Jesus está escrito em João 4:7-28, no qual há um diálogo com uma mulher samaritana: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la “(Versos 14 e 15). Logo após, Jesus parece mudar o assunto da conversa ao dizer: “Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá.” (verso 16). A mulher queria beber da água da vida e ser satisfeita eternamente, no entanto faltava o reconhecimento acerca da transgressão da lei. Muitas pessoas hoje sentem um vazio no seu interior, uma falta de algo, e muitos evangelistas se apressam em apelar a aceitarem Jesus. Repare que aqui Jesus podia ter dito: “Eu sou o Messias, creia em mim”, no entanto ele pede para ela chamar o marido: “A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.” (versos 17 e 18). Jesus primeiro mostrou que ela estava em adultério(em pecado) e depois se revelou como o Messias: “A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.” (Verso 25 e 26). Esse é mais um exemplo de que é necessário mostrar ao homem natural a natureza de seu pecado para ele perceber que está alienado de Deus, que tem uma dívida a qual não pode pagar e um dia vai ser julgado por Ele.
Portanto, não devemos usar a paz e alegria como iscas no evangelismo. Essas coisas são apenas consequências da genuína conversão. Uma das estratégias para o começo de um evangelismo seria por exemplo levantar uma questão acerca do que acontece após a morte, logo em seguida indagar se a pessoa se preocupa com o fato de que pode morrer em breve e ter que encarar o juízo de Deus, e ainda questionar se a pessoa segue os mandamentos de Deus.
O importante é que a pessoa venha a ter consciência da necessidade de ter seus pecados perdoados por Jesus Cristo. Em vista disso, o evangelismo deve ser cristocêntrico, deve confrontar o pecado e levar ao arrependimento.Esperamos em Deus, que igrejas possam atentar para essa verdade, e voltar para o verdadeiro evangelismo, abrigando membros repletos de gratidão por sua Salvação.
Referências:
Treinamento Básico de Evangelismo atualizado disponível em http://www.caravanadoarrependimento.com.br
A verdade da cruz – R. C. Sproul
Evangelismo Biblico – Ray Comfort – http://www.evangelismobiblico.com.br/
Administrador do Justificação pela Fé.