Ele subiu…

Quarenta dias após a sua ressurreição, Cristo se despede dos seus discípulos dando-lhes suas últimas instruções para em seguida subir aos céus. 

Pela descrição de Lucas a Teófilo, foi um evento fantástico e sobrenatural. Algo que somente alguns pouquíssimos privilegiados puderam observar. 

A shekinah (glória de Deus) encobriu Jesus, possivelmente porque os discípulos não estavam preparados ver algo tão espetacular. Não era a primeira vez que isso acontecia no Monte das Oliveiras. Em outra oportunidade Cristo foi visitado por Elias e Moisés e deixou os discípulos amedrontados. (Mt 17.2-3). 

 Novamente a ascensão acontecia, afinal, Cristo já tinha subido aos céus logo após a ressurreição, embora não tenha sido presenciada por nenhum espectador. (Jo 20.11-18).

Durante esses quarenta dias os discípulos se acostumaram com aparições esporádicas de Cristo. Uma hora ele estava no caminho de Emaús (Lc 24.13-35), em outro momento comeu com eles na praia (Jo 21.1-14), enfim, parece-nos que Ele ia e voltava, subia e descia quando queria. 

Mas, desta vez, Cristo quis deixar bem claro que esse era o último instante em que eles o veriam como Homem-Deus. Jesus foi subindo devagar, envolto numa nuvem especial e acompanhado de seres angelicais. 

É uma pena que ainda não tivessem inventado câmeras fotográficas ou filmadoras naquela época. Talvez se existissem também não adiantaria muita coisa. Imagino que a glória de Deus deveria ter um brilho inimaginável. 

Cristo subiu e os discípulos ficaram paralisados com aquela cena magnífica. Tão paralisados que foi preciso que os anjos chamassem eles de volta à realidade. Ficaram boquiabertos com tudo o que viram. 

É interessante saber que ascensão não era uma novidade naqueles dias. Tanto gregos como judeus tinham em suas histórias personagens que ascenderam aos céus. Segundo os relatos bíblicos, Elias subiu aos céus num redemoinho (II Reis 2.11). Segundo a mitologia grega, Héracles também subiu aos céus e transformou-se em uma divindade grega. Portanto, os leitores de Lucas já conheciam histórias sobre a ascensão. Seres celestiais como anjos também faziam parte da cultura grega e judaica. 

Mas, existe uma grande diferença. Tanto Elias como Héracles subiram aos céus como homens. Cristo ascendeu como Deus e foi com o corpo glorificado. Ele subiu diante de várias testemunhas, enquanto nas outras ascensões citadas, a primeira foi diante de Eliseu apenas e a segunda não passa de um conto mitológico, portanto nunca foi reconhecida como fato verdadeiro. 

A ascensão de Cristo nos dá a certeza de que temos para onde ir. Cristo deixou claro que estava indo para os céus, junto ao pai. Ele já tinha dito antes: “Vou preparar-vos lugar.” 

A ascensão de Cristo mexe com a autoestima do cristão. Como disse o apóstolo Paulo, esse corpo corruptível dará lugar a um corpo incorruptível. Os que sofrem zombarias e bullying por não atenderem os padrões de beleza exigidos por uma parte da sociedade podem ter a esperança de que seus corpos serão perfeitos algum dia. Nunca mais sofrerão qualquer tipo de escárnio, nem derramarão lágrimas por tristeza ou vergonha. 

Em breve estaremos livres de toda essa carga de stress a que somos submetidos. Livres de trânsito, de relógio, de atrasos. Senhores do tempo, sem necessidade de veículos para locomoção. Desde Ícaro, o homem sonha em voar, porém sem sucesso. Chegará finalmente o dia em que teremos total liberdade. Mais do que nunca, em Cristo nos moveremos e existiremos. Exclusivamente Nele e por Ele. Isso sim é Graça. 

Teologicamente, acho que o teólogo Louis Berkhof foi muito feliz em suas considerações, as quais reproduzo em parte aqui:

 

“Pode-se dizer que a ascensão tem tríplice significação: 

(1) a ascensão encarnou claramente a declaração de que o sacrifício de Cristo foi um sacrifício oferecido a Deus e, como tal, tinha que ser apresentado a Ele no santuário mais recôndito; de que o Pai considerou suficiente a obra mediatária de Cristo e, por conseguinte, admitiu-o na glória celestial; e de que o reino do mediador não era um reino dos judeus, mas um reino universal. 

(2) A ascensão também foi exemplar, no sentido de que foi uma profecia da ascensão de todos os crentes, que já estão com Cristo nos lugares celestiais, Ef 2.6, e estão destinados a permanecer com Ele para sempre, Jo 17.24; e também no sentido de que revelou o restabelecimento da realeza original do homem, Hb 2.7, 9. (3)

 

Finalmente, a ascensão também serviu de instrumento para a necessidade de ir Ele para o pai, a fim de preparar lugar para os Seus discípulos, Jo 14.2, 3.”

 

Por último, quero destacar as palavras dos anjos que acompanhavam Cristo naquele momento: homens da Galiléia, por que vocês estão aí olhando para o céu? Fica a impressão de que os anjos estavam chamando os discípulos para a realidade. Eles tinham muito trabalho pela frente e agora estariam sem a presença humana de Cristo junto deles. 

Definitivamente, iniciava-se ali a missão deles como proclamadores do Evangelho que abalou as estruturas mundiais, mudando costumes e culturas, abalando reinos e governos, levando pessoas à vida eterna apesar da morte nas arenas e estádios. 

E os anjos completaram sua frase dizendo: Esse Jesus que estava com vocês e que foi levado para o céu voltará do mesmo modo que vocês o viram subir. Essa é uma afirmação fantástica. 

Cristo virá novamente, em glória, todo olho o verá e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. (Ap 1.7; Fp 2.9-11). 

Essa é a razão da nossa esperança. Não fomos deixados ao acaso, como pensam alguns filósofos e cientistas. Observe o pessimismo do pensamento existencialista: 

Para os ateus, a “ironia” é a de que não importa o quanto você faça para melhorar a si ou aos outros, você sempre vai se deteriorar e morrer. Muitos existencialistas acreditam que a grande vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la. Resumindo, você vive uma vida miserável, pela qual você pode ou não ser recompensado por uma força maior. Se essa força existe, por que os homens sofrem? Se não existe e a vida é absurda em si mesma, por que não cometer suicídio e encurtar seu sofrimento? 

Colocar nossa fé em Cristo, aceitando a ressurreição e a ascensão de Cristo e, principalmente, seu retorno a este mundo, nos dá a certeza da vida eterna e de um futuro glorioso. 

Maranata!!! Ora vem Senhor Jesus!!!

 

Até a próxima!!!

 

Deus o abençoe!!!

 


Notas 

1. Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz para o Caminho, 1990. 

2.Grudem, Wayne A. Teologia Sistemática Atual e Exaustiva. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999. 

3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo. 

4. http://pt.wikipedia.org/wiki/Héracles. 

5. Keener, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento. Belo Horizonte: Editora Atos, 1960.

 

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