“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa, Obras Completas, Senado Federal, 1914).”
O capítulo cinco de atos dos apóstolos mostra os políticos judeus (saduceus e fariseus) tentando resolver as coisas do seu jeito, com truculências e mentiras, a fim de intimidar os primeiros cristãos. Então, vamos aproveitar esse gancho para falar um pouco de um dos principais assuntos da nossa era: a politica.
Para iniciarmos nossa conversa vamos à algumas definições de politica retiradas da wikipedia:
- “No sentido comum, vago e às vezes um tanto impreciso, política, como substantivo ou adjetivo, compreende arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido político, pela influência da opinião pública, pela aliciação de eleitores
- Thomas Hobbes (filósofo inglês): “consiste nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem”
- Bertrand Arthur William Russell (filósofo inglês): “o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados”;
- Nicolau Maquiavel (filósofo italiano): “a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo”, que é a noção dada por Nicolau Maquiavel, em O Príncipe;
- Numa conceituação moderna, política é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil.”
“O Senhor dos Anéis” é uma trilogia do escritor J.R. Tolkien, que retrata com excelência a sede de poder que brota da alma dos homens. Se pensarmos no anel como a representação do pecado conseguiremos entender melhor a malignidade dele. Se raciocinarmos com a corrupção politica, então, a comparação ficaria perfeita.
Sem um alicerce teológico consistente e a comunhão diária com Deus, como fazia o profeta Daniel, qualquer ser humano é atraído, controlado e subjugado pelas perigosas tentações que a política pode induzi-lo.
O apóstolo Tiago é bem pedagógico quando nos explica sobre a tentação: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”. (Tg 1.14-15)
Ao longo da historia, incontáveis atrocidades aconteceram, vidas foram ceifadas e toda espécie de pecados foram cometidos em nome da politica.
Na narrativa bíblica, desde Moisés, passando pelos juízes; reis; chegando a Herodes; Pilatos; Nero e outros, os maus políticos sempre foram inimigos do Reino de Deus.
Todo tipo de obra da carne é manifesta através da tentação do poder, quando os homens não se submetem a Deus, como já advertia Paulo aos gálatas: “…imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus.” (Gl 5.19-21)
O que a Bíblia nos mostra é que antes mesmo do pecado original em Adão, a sede pelo poder e a tentativa de persuadir outros à mesma cobiça já acontecia nas regiões celestiais.
Através destas palavras é possível enxergar a sujeira no coração de Lúcifer, cheio de cobiça, orgulho e toda sorte de pecados: “Você que dizia no seu coração: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo“. (Is 14:13,14)
Quando Cristo foi para o deserto, lá estava Satanás, tentando se aproveitar do momento, após quarenta dias de jejum: “Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães… Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra… Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.” (Mt 4:3-9)
Lembra uma campanha politica, não é? Um enganador, fazendo promessas que nunca se cumprirão.
Usando as necessidades básicas do ser humano (segundo o psicólogo americano Abraham Maslow): necessidades fisiológicas; de segurança; sociais; de status e necessidades de auto-realização, o enganador tenta se promover.
Quando você ouvir alguma promessa política, lembre-se dessa passagem bíblica e analise com cuidado. Só existe um que realmente cumpre todas as suas promessas: o Deus Eterno.
Na verdade, quem se apaixona pelo anel pode se transformar em uma espécie de “Gollum”, personagem do “Senhor dos Anéis”. Ele é um ser que foi corrompido pelo poder do Anel. Era da raça dos Hobbits e se chamava Smeagol, até o dia em que encontrou o anel em um rio e se apaixonou por ele, matando seu melhor amigo Deagol, para obte-lo. Desde então, ficou vagando pelo mundo, comendo o que conseguisse pegar, dormindo em cavernas. Sua vida foi estendida pelo poder do anel, e assim ele virou uma criatura horrível.
Qual a conclusão que podemos tirar desse nosso início de conversa? Os políticos mal intencionados são seguidores de Satanás, como afirmou Cristo aos fariseus (religiosos políticos): “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai… Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” Jo 8:44
Bem, agora vamos pensar mais um pouco. É possível termos bons políticos? Existem antídotos para as tentações que podem advir da politica?
A boa notícia é que o Evangelho é o antídoto perfeito para qualquer tentação, inclusive na política.
A reforma protestante provou ser possível conciliar evangelho e política. O grande problema é a dualidade humana. Todos nós temos a tendencia de separar o cotidiano, da vida espiritual. Queremos ser autônomos e dirigir o nosso caminho. Nos afastamos de Deus. Isso faz com que vivamos independentes de nossa teologia. Portanto, não conseguimos aplicar o Evangelho às nossas vidas fora da igreja.
O pastor e teólogo João Calvino mostrou ser possível conciliar politica e fé. Sua ênfase na soberania Divina, combate qualquer tipo de regime ditatorial. Ele provou a distinção entre igreja e estado, mas não aprovou a obediência cega àquele. Afinal, como disse Pedro e os apóstolos: “…mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” At 5.29.
Foi enfatizada a graça comum, que faz da política um direito de todos e não apenas de cristãos. Além disso, através da valorização do trabalho e de toda e qualquer ocupação honesta, os reformadores contribuíram para o fortalecimento de noções como liberdade, democracia e solidariedade social.
O problema é que normalmente resumem o “calvinismo” aos cinco pontos, ou à doutrina da predestinação, e se esquecem quão abrangente é a teologia reformada.
Inúmeros teólogos reformados como Abraham Kuyper, Karl Barth, Rousas John Rushdoony, entre outros, influenciaram a sociedade à sua volta, mostrando-lhes o caminho da política através das Escrituras.
No século passado, Francis Schaeffer foi um teólogo reformado que se opôs ao modernismo. Alguns teóricos creditam às ideias de Schaeffer o despertamento das Direita cristã nos Estados Unidos.
Guilherme de Carvalho, pastor, pensador reformado e diretor do Centro de Estudos L’Abri Fellowship Brasil, comentou alguns fragmentos do pensamento de Schaeffer na revista Ultimato, da qual é colunista:
“ O pensamento humano continua firme na mesma direção, com a dissolução dos universais, a cristalização de uma cultura de de prosperidade, bem estar e entretenimento, a pulverização individualista do homem, o fortalecimento de instituições de controle para compensar a falta de virtudes compartilhadas, e assim por diante…
A experiência do cristianismo não como evasão, mas como retorno à realidade, depende desse cristianismo ser claramente ensinado e praticado como unidade de natureza e graça, com a graça penetrando todas as esferas da natureza. Isso envolve mais do que a “responsabilidade social da igreja”; envolve a vivência estética, a vida intelectual, a experiência comunitária, e também áreas sensíveis como economia e política…”
Lamentavelmente, no Brasil, a teologia (de modo geral) é desprezada pelos evangélicos, os quais ficam sem fundamentos bíblicos sustentáveis para combater os vícios e a corrupção da política brasileira.
Os candidatos evangélicos são escolhidos por suas performances no ministério e não por suas vocações e dons, o que traz muita confusão, decepção e vergonha para os cristãos.
Quem tem vocação para pastor, provavelmente não à tem para política, porque elas são muitas vezes antagônicas. Sem vocação e uma base teológica sólida a chance de fracasso ou corrupção é de 99,99%.
Mesmo no meio cristão, faltam pensadores hoje em dia. Gente que se dispõe a refletir, meditar, pensar por todos os ângulos para encontrar soluções para o pais. A nossa omissão permite que os maus governem sobre os bons.
Nos dias atuais precisamos voltar às reflexões. Investigar o que pensadores escreveram no passado, contextualizando com a nossa situação presente e projetando o nosso futuro. Pão e circo só prejudicam o país e não satisfazem a alma. Infelizmente, o Brasil elegeu como deuses a luxuria e o entreterimento.
Muitos acreditam naquele ditado: “política, futebol e religião não se discute.” Será?? No futebol já perdemos de 7×1, na religião, desprezamos a teologia e ficamos à mercê dos movimentos importados principalmente da América do Norte, e, na politica, parece que perdemos totalmente o rumo.
A teologia reformada tem muito a oferecer para o Brasil. Os países que a legitimaram no passado, são hoje conhecidos como “primeiro mundo”. Poucos foram aqueles que se desenvolveram sem adotarem a reforma.
Cabe a nós difundir o Evangelho! Vamos ou não reformar esse pais??? Permear toda a sua cultura e pensamento com a ética cristã?? Colocar Deus como Senhor e Soberano dessa nação???
Se a nação está em trevas, seremos a luz. Se está prestes a estragar, seremos o sal. Os cristãos sempre foram minoria, mas mudaram o mundo com o Evangelho. Quando a humanidade estava na “idade das trevas”, a reforma a transportou para a modernidade.
Seremos pequenos “hobbits”, que com a ajuda Divina, resistem ao poder do terrível anel, o qual tenta incessantemente nos controlar.
Devemos nos preparar para o momento em que o nosso Senhor nos chamar. Como responderemos à sua pergunta: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”. Responderemos como Isaías? “eis-me aqui, envia-me a mim”. Is 6.8.
Pense nisso!!!
Até a próxima!!!
Deus o abençoe!!!
Elias Silvio
Notas
1. J. Williams, David. Atos, Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. São Paulo: Editora Vida, 1985.
2. H. Gundry Robert. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1978.
3. Craig S. Keener. Comentário Bíblico Atos, Novo Testamento. São Paulo: Editora Atos, 2004.
4. http://pt.wikipedia.org/wiki/Abraham_Maslow
5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Schaeffer
6. http://ultimato.com.br/sites/guilhermedecarvalho/2012/02/08/francis-schaeffer-para-o-seculo-21/
Membro do Ministérios Justificação pela Fé, amigo fiel e apaixonado pela Teologia Reformada. Membro, líder de pequeno grupo e professor da EBD da Igreja Presbiteriana do Calvário de Sorocaba/SP.