É notório o quanto a violência se expande pelo Brasil. O caso de maior destaque no momento é o Rio de Janeiro, mas não precisamos ir muito longe. No mês passado, um homem (33 anos) matou sua mãe (61 anos) dentro de casa com um guidão de bicicleta, na cidade de Riacho Fundo, no Distrito Federal. Fato, a crueldade não está só no Rio de Janeiro, mas também nas vizinhanças da capital do Brasil e espalhada pelo país. Pode alcançar qualquer um. Não respeita a vida, idade, religião, horário, capital, polícia, governo e nem classe social.
No passado, os cristãos enfrentaram situações semelhantes. Naqueles dias, na cidade de Éfeso, era muito presente homicídios e todo tipo de maldades até mesmo entre familiares. Também havia falta de esperança no governo e de segurança na cidade. A desigualdade era um fato (Ef 2.2; cf. Rm 1.18–32).
Além disso, os crentes ficaram sabendo da prisão do apóstolo Paulo em Roma, o que aumentou o medo e desespero! Quando Paulo soube desse cenário enviou uma carta aos cristãos para encorajá-los a permanecer firmes na fé, apesar de tudo! Pediu para eles não desanimarem por causa da sua prisão por pregar o Evangelho (Ef 3.13).
Como Paulo encorajou os crentes daquela época? Ao invés de usar um discurso de auto-ajuda/motivacional, como é comum hoje em dia, ele preferiu lembrar aos cristãos sobre a ORIGEM e o propósito da Igreja.
A Bíblia diz em Efésios 1.3-6:
03- Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo.
04- Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.
05- Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade,
06- para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado [grifo nosso].
Muitos temores e dificuldades deles em permanecerem em Cristo durante as tribulações devia-se ao esquecimento da origem divina da Igreja. É importante sempre lembrar: foi na eternidade, antes mesmo de tudo existir, onde Deus Pai abençoou e deu origem ao plano de salvação do seu povo. Isso deve ser motivo de alegria e confiança no poder do Eterno!!! Pois não estamos órfãos, temos Pai, o Deus todo poderoso.
Diz a Bíblia “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo”. Esse verbo “abençoou” no original grego significa que a Igreja começou a ser abençoada na eternidade e continuará a ser até a volta de Cristo!
Deus sabia que eu e você um dia tentaríamos viver independentes Dele. Por isso Ele previamente planejou nos salvar antes de tudo acontecer. Adão e Eva quando pecaram, talvez não soubessem o conceito de pecado. Porém sabiam que precisavam depender do Criador e por isso não deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas,….
02- Respondeu a mulher à serpente: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim,
03- mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’ “.
04- Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão!
05- Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal“[grifo nosso]. (Gn 3:2-5)
O desejo de serem independentes foi alimentado pelas mentiras de satanás! Então, em Gn 3:6:
06- Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.
Eles logo perceberam, após pecarem, que é melhor depender de Deus para ter conhecimento do que ser escravo do pecado. Depois desse episódio todos nós nascemos escravos do pecado, mortos espiritualmente para Deus, e separados do Divino. Nascemos incapazes de discernir o “bom” segundo o padrão divino, e na nossa ignorância fazemos o “mal” todos os dias. Não necessariamente um mal ao extremo, mas quando vivemos sem se importar com Deus, pecamos! Isso é fazer o mal aos olhos de Deus.
Se Ele não tivesse planejado nos salvar e nos reconciliar com Ele, até hoje não haveria expectativas de mudança para a humanidade, nem para a criação! Esse plano inclui várias bênçãos onde a Igreja tem papel fundamental na visibilidade dele. Citaremos pelo menos três.
Primeiro, ser adotado como filho de Deus muda nossas relações interpessoais. Dentro da Igreja todos são irmãos e os de fora passam a ser tratados com mais amor. Isso muda qualquer sociedade. Todos precisam do Evangelho, tendo nascido numa família cristã ou não. Como está escrito: Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. (Rm 10.12). Em Cristo ambos são feitos novas pessoas!! Só o Evangelho tem poder para nos fazer conhecer o Filho, para nascermos de novo. Como está escrito: “aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.” (Jo 1.12-13).
A partir desse agir sobrenatural, novas inclinações pessoais nascem para Deus de tal forma a existir o sentimento, a necessidade e o dever de viver, pensar e agir como Jesus Cristo. Isso é voltar a depender de Deus. Então, muitos dos nossos conceitos são transformados e outros aperfeiçoados pelo Evangelho. Por exemplo, o bandido e o empresário, salvos por Cristo, um abandona a bandidagem e outro deixa o egoísmo e ambos passam a viver em comunhão, respeitando e ajudando um ao outro, sem discriminação e em amor. Até as pessoas próximas a eles serão impactadas!
Segundo, desenvolver um senso de justiça igual ao de Cristo na cidade. Como está escrito: se alguma viúva tiver filhos, ou netos, aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família, e a recompensar seus pais; porque isto é bom e agradável diante de Deus (1 Timóteo 5.4). Os traficantes salvos por Cristo deixarão de ser traficantes, e passarão a cuidar da sua família, isso inclui colaborar para uma cidade mais segura. Da mesma forma, filhos desobedientes passarão a amar seus pais, e o desejo de abandoná-los no asilo ou de matá-los sumirá!
O senso de retribuição com nossos familiares será incondicional. Tudo porque os participantes desta nova família terão as mesmas responsabilidades do Filho, de serem obedientes e amorosos com os pais.
Seja a nossa atitude a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz! (Fp 2.1-8)
A mudança dentro de casa também influenciará os de fora, no bairro, cidade, sociedade, justiça, legislativo, executivo do Brasil e na aplicação de leis mais justas. Governantes e eleitores aos poucos privilegiarão mais o bem comum da sociedade aos seus interesses egoístas e corruptos. Tudo porque Jesus transmitiu e ensinou sua justiça!
Terceiro, mas não menos importante, viver a vontade de Deus independente de eventuais prejuízos pessoais. O Criador é honrado e glorificado através de nós quando O colocamos em primeiro lugar da nossa vida. Isso inclui preferir sofrer prejuízo do que envergonhar a Deus. Paulo fala sobre isso em sua carta aos Coríntios, quando faz a seguinte pergunta com o objetivo de lembrá-los do que devem fazer: “O fato de haver litígios entre vocês já significa uma completa derrota. Por que não preferem sofrer a injustiça? Por que não preferem sofrer o prejuízo? “(1Coríntios 6.7). Se a Igreja invisível é o corpo de Cristo, então é necessário moldar a mente do cristão à mente de Cristo. Como Ele é o cabeça do corpo, seria incoerente não ser orientado pela sua Palavra. A Igreja foi predestinada para ser bênção neste mundo a fim de reconciliar o universo com o Criador, sem fé Nele será difícil ter uma esperança inabalável.
Diante desse plano maravilhoso de Deus, pergunto: pode vir deste mundo corrompido algum tipo de confiança incorruptível? Não consigo ver outra alternativa senão uma intervenção divina, uma solução originada externamente à humanidade e de fora deste mundo. Ela aconteceu há mais de 2000 anos, quando Jesus veio a esse mundo para morrer em nosso lugar, e imerecidamente Ele morreu naquela cruz em nosso lugar. Ele assumiu nosso castigo para termos vida em abundância neste mundo e na eternidade!!! Viver abundantemente é viver na família de Deus. Entre irmãos, não pode haver selvageria, egoísmo, homicídio, inveja, etc.. Pelo contrário, é na Igreja onde podemos encontrar graça, amor e perdão antes nunca experimentados!
Por isso o Rio de Janeiro, Distrito Federal e todo o Brasil precisam do Evangelho, de Jesus! Quanto mais pessoas se reconciliarem com Deus, ou seja, fizerem parte da Igreja invisível, menos guerras e falta de amor teremos, será possível nos reconciliar uns com os outros. Onde há reconciliação, arrependimento e perdão, não há espaço para violência! O pecado gera todo mal e a Igreja tem o poder de Deus em suas mãos para mudar essa nação, tem o Evangelho de Jesus Cristo que nos garante ser abençoados Nele, pois temos um Pai, o Deus Pai, e assim espalhar o amor Dele para transformar este mundo.
Em Cristo e com amor
Pr. Paulo Corrêa
Hendriksen, W. (1992). Efésios e Filipenses. (C. A. B. Marra, Org., V. G. Martins, Trad.) (3a edição, p. 11). São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
Neves, I. (2015). Comentário Bíblico de Efésios: Através da Bíblia. (I. Mazzacorati, Org.) (Primeira edição, p. 31). São Paulo, SP: Rádio Trans Mundial.
Calvino, J. (2010). Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses. (T. J. Santos Filho, F. Ferreira, W. Ferreira, L. G. Freire, & M. do Amaral Silva Ferreira, Orgs., V. G. Martins, Trad.) (Primeira Edição, p. 207). São José dos Campos, SP: Editora FIEL.
Integra a equipe de pastores do presbitério da Igreja Batista Reformada de Brasília, Águas Claras/DF. Fundador e Editor do Ministério Justificação pela Fé. É formado em Teologia Livre pelo Seminário Martin Bucer/SP, pós-graduado em Pregação Expositiva e mestrando em Teologia Sistemática pela Faculdade Teológica Reformada de Brasília/DF. É Casado com Pâmela Corrêa, com quem tem uma filha, Ana Corrêa.
Para convites para ministração, acesse: http://tiny.cc/jl5trz