Em 04 de janeiro de 1859, num culto promovido pela Associação Cristã de Moços – ACM – em Londres, Spurgeon pode pregar o seguinte: “Devemos confessar que nesta hora não gozamos da presença do Espírito Santo na medida que a desejaríamos. Oh, que resultados se reproduziriam nos que se congregam aqui nesta noite, e sobre todas as assembléias dos santos, se o Espírito de Deus descesse! Não buscamos exaltações extraordinárias – as quais são as falsas acompanhantes de todo avivamento – mas realmente aspiramos que o Espírito Santo seja derramado sobre nós. O Espírito está soprando sobre nossas igrejas com seu alento afável, porém não é mais que um sopro suave. Oh, se viesse como um vento impetuoso que arrebatasse tudo após si! Esta é a necessidade destes tempos – a grande falta em nossa nação.”
Naquele mesmo ano, Deus ouviu a oração em forma de sermão de Spurgeon e houve um grande despertamento espiritual na Inglaterra. Multidões buscavam ao Senhor, alcoólatras e prostitutas eram vencidas pelo Espírito Santo e levadas à Igreja. Muitos criam em Jesus como Senhor e Salvador, a igreja se inflamava.
Mais de um século e meio depois, as palavras do “Príncipe dos Púlpitos”, como era chamado Spurgeon, continuam ecoando nos corações. De fato são tão atuais quanto o jornal que foi publicado nesta manhã! É verdade que o Espírito Santo tem estado presente em nossa vida. Afinal, o ensino bíblico nos dá conta de que ele passa a habitar em nós no momento em que cremos no Senhor Jesus como nosso único Senhor e Salvador (Rm 8:9). Com efeito, Ele de fato habita em nós!
Todavia, não basta que esteja em nós. É fundamental que, cada dia seja entregue a ele a direção da vida. Paulo recomenda que haja a busca pelo “enchimento do Espírito” (Ef 5:18), o que nos alerta para o fato de o Espírito estar em nós, mas, por vezes, não controlar a nossa vida (1Ts 5:19). Na verdade, temos nos conformado com a presença suave do Santo Espírito em nossa vida, quando deveríamos permitir que Ele nos arrebatasse e em nós fizesse a grande e tão esperada obra de Deus na sua plenitude (Ef 3:19). Sim, que grande diferença será quando o Santo Espírito de Deus nos arrebatar e conduzir inteiramente.
Assim como ressaltou Spurgeon e tal como encontramos na Bíblia, não se trata de “exaltações extraordinárias” ou manifestações que normalmente simulam uma ação do Espírito Santo. Não falamos de êxtase, de descontroles, de línguas ininteligíveis ou coisas que caracterizam movimentos vazios e que não transformam vidas verdadeiramente. Falamos sim de despertamento para a oração, para uma consciente busca da presença de Deus, de uma adoração permanente e não somente nos cultos, de uma separação de vida para a santificação e a mudança de ações e atitudes que não podem conviver com um coração realmente voltado para o Senhor.
Spurgeon falava do verdadeiro avivamento, produzido pelo Espírito Santo e não de movimentos humanos, produzidos pelas promessas mirabolantes, pela música cuidadosamente usada para mexer com o inconsciente e a manipulação das emoções passageiras e que não produzem profundas mudanças e acertos com Deus. Quando o verdadeiro avivamento acontecer, os homens sentirão a necessidade irrecusável de buscar ao Senhor, deixando seus pecados, sua vida vazia e torta, mudando seus caminhos e tornando-se novas criaturas. Tal exemplo, por sua vez, atrairá outras pessoas mais até que poderemos ver os bares mais vazios, as esquinas sem grande movimentação, os antros de prostituição e de consumo de drogas sem freguesia, porque os homens estarão buscando Jesus. Da mesma maneira, haverá um interesse maior dos crentes pela Palavra e sua aplicação na vida. Haverá verdade nas palavras e o enganador perderá o seu poder de iludir e confundir o entendimento dos crentes. Haverá vida de busca maior do Senhor.
Mas, para tanto, com sinceridade, precisamos clamar que o Espírito Santo deixe de ser a brisa suave que tanto gostamos para ser o impetuoso e arrebatador vento que nos leve no seu querer. Levando-nos como levou Felipe ao Eunuco ou aos de Azoto (At 8:26;39,40); levando-nos como levou Paulo em suas viagens (At 13:4); levando-nos como tem, levado a Igreja nos seus grandes momentos, desde os dias bíblicos, nos grandes avivamentos, e como é necessário nos dias de hoje mais ainda.
A marca do vivo avivamento não são as “exaltações extraordinárias” que, segundo Spurgeon “são falsas acompanhantes de todo avivamento genuíno”. O que queremos não é evidenciado por marcas vistas durante um culto, mas marcas vivas que se deixem revelar no cotidiano com Deus. Que o nosso Deus, com amor e misericórdia, possa nos agraciar com este avivamento arrebatador e verdadeiro, nos impulsionando a vida de oração, santidade e compartilhamento de Cristo. Avivamento que arraste os homens, perdidos nas trevas, para a maravilhosa luz do Senhor, o Salvador. Que assim seja ainda nestes dias!
Fonte: IBCT